São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 1997
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Sou da paz

RICARDO CAPELLI; KÉRISON LOPES

RICARDO CAPELLI
KÉRISON LOPES
A campanha nacional pelo desarmamento da população e contra a violência, que está sendo desenvolvida pela União Nacional dos Estudantes e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, pretende alcançar preferencialmente a juventude brasileira, principal personagem da criminalidade nos grandes centros.
A campanha será realizada em escolas, faculdades, clubes e outros locais de concentração juvenil em todo o país, especialmente naqueles municípios em que os índices de violência são mais elevados.
Os grêmios estudantis e os centros acadêmicos vão formar núcleos reunindo a comunidade escolar e os moradores de cada região, buscando integrar multidões nessa empreitada.
Um dos objetivos do movimento, lançado no dia 11 em São Paulo, é convencer a sociedade de que o porte de armas não significa proteção. Ao contrário, de cada 16 pessoas que se defendem com armas de fogo, 15 são feridas ou assassinadas.
Além do Disque-Desarmamento da UNE (0800-17-7760), estão previstos queima de armas em praça pública, troca de armas por alimentos e debates e shows sobre os perigos de portar armas.
Outra meta das entidades estudantis é acelerar a discussão sobre as causas da violência crescente e generalizada, que, acreditamos, estão fundamentalmente na falta de perspectivas de um futuro promissor para a imensa maioria da população, principalmente as camadas mais jovens.
Os dados de criminalidade entre a juventude na zona sul da capital paulista, por exemplo, são chocantes. Indicam que 70% das mortes de jovens entre 16 e 24 anos ocorrem por homicídio. Destes, 93% são cometidos com armas de fogo. As pesquisas também revelam que quem mais mata são jovens da mesma faixa etária.
Por outro lado, observa-se que os bairros com maior índice de assassinatos, como o Jardim Ângela, em São Paulo, não possuem cinema, quadra esportiva nem mesmo área verde. A falta de ocupação produtiva faz as pessoas se sentirem inúteis. Daí para a marginalidade não é um passo difícil.
Pretendemos discutir também a maneira como os meios de comunicação, especialmente algumas televisões, vêm tratando o assunto, geralmente num tom sensacionalista, raramente contribuindo na busca de soluções.
A campanha, cujo slogan, "Sou da paz", foi criado pelos publicitários Márcio Ribas e Dráusio Gragnani, da DM9, sob supervisão de Nizan Guanaes, tem apoio da OAB, da Cúria Metropolitana de São Paulo, da Comissão Justiça e Paz e do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Crime e Tratamento do Delinquente, entre outras instituições. E já recebemos adesão de artistas, esportistas, jornalistas e apresentadores de TV.
Pretendemos ainda alertar que não basta desarmar as pessoas sem criar alternativas de segurança. E segurança não significa apenas pôr mais policiais nas ruas ou cercar os condomínios nobres. É preciso adotar programas efetivos de emprego, educação, cultura, saúde, esporte e lazer, para dignificar a vida humana e torná-la útil e produtiva em todos os sentidos.

Ricardo Capelli, 25, é presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Kérison Lopes, 20, é presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes).

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