São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 1997
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Nacional da Hungria frustra

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

O que prometia ser uma oportunidade rara na cena musical de São Paulo terminou sendo uma grande frustração. O concerto da Orquestra Filarmônica Nacional da Hungria trocou, anteontem, a Sinfonia nº 1 de Brahms, anunciada como segunda parte do concerto, pela 8ª Sinfonia de Dvorak.
Não é toda hora que se pode ouvir a Primeira Sinfonia de Brahms, uma das peças mais instigantes da música.
O concerto -da série Concertos Internacionais Hebraica Banco de Boston- teria tido o seu final glorioso, depois das Danças de Galanta, de Zoltan Kodály, e do Concerto nº 2 para Piano e Orquestra de Franz Liszt, em que Arnaldo Cohen se juntou à orquestra.
Com a troca, a tensão e a complexidade musical foram claramente dissipadas e a segunda parte ficou entediante.
Tocar Kodály e Dvorak na mesma noite deu um ar de Feira das Nações ao concerto. Dvorak sobrevive como glória da música tcheca. Suas peças soam agradáveis, e é tudo.
Kodály, que usou material folclórico húngaro para compor, é uma espécie de primo pobre de Bella Bartok.
Sobrou o concerto de Liszt como ponto alto da noite. Cohen está em casa no repertório romântico.
O pianista brasileiro busca na música a expressividade, a emoção. O resultado é um Liszt sem surpresas. A impulsividade que Cohen quer em seu Liszt sacrifica um pouco a clareza de articulação em passagens rápidas e fortes. Tudo vira timbre.
Os diálogos entre o piano e os violoncelos foram, no entanto, o que de melhor se ouviu no concerto. A orquestra húngara tem uma bela seção de cordas, principalmente os violoncelos e contrabaixos.
Se fosse uma orquestra de cordas seria um bom conjunto. Como sinfônica, deixa a desejar, por culpa, principalmente, da sofrível seção de madeiras.
Desarticulada nos ataques, frequentemente inexpressiva, com problemas de afinação, imagina-se como teria se saído na Primeira de Brahms, com seu estilo beethoveniano de orquestrar opondo cordas e madeiras.
Kodály soou agradável. Os músicos húngaros pareciam felizes tocando-o e evocando sua terra. Foi também Kodály que revelou a melhor faceta da orquestra: a precisão rítmica.
O concerto foi todo acompanhado pelo barulho do ar condicionado da sala da Hebraica. Se o clube quer ter noites quentes de música tem que dar um jeito naquela geringonça.

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