São Paulo, sábado, 23 de agosto de 1997
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García Márquez quer intervenção da ONU

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O escritor Gabriel García Márquez e outros intelectuais colombianos vão apelar para que a ONU intervenha na Colômbia, encontre uma fórmula de paz e evite que seu país se torne uma Bósnia latino-americana. O texto da carta-apelo está sendo redigido.
O autor de "Cem Anos de Solidão" e tantas outras obras convenceu-se, juntamente com os demais signatários, de que a sociedade colombiana é incapaz de resolver os problemas internos de violência, da qual uma das últimas vítimas foi um amigo pessoal do presidente Ernesto Samper, o senador Jorge Cristo.
Pesquisas dizem que dois terços não acreditam que a "iniciativa de paz" de Samper com os guerrilheiros esquerdistas dê em alguma coisa. A morte de Cristo aumentou a crença. O senador morreu em Cúcuta, onde em julho deveria ter-se realizado uma "assembléia de paz", convocada pelo governo e suspensa por falta de garantias.
Uma das guerrilhas em atividade há mais de 30 anos, o Exército de Libertação Nacional (ELN), ameaçou matar os participantes, e o governo não teve como bancá-la. Outra guerrilha, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) aplicaram golpe publicitário no governo e nas Forças Armadas com a libertação sob refletores, em presença da mídia nacional e internacional, de 60 soldados e 10 marinheiros sequestrados e mantidos em cativeiro.
'Triunfo político'
O colunista Enrique Santos Calderón, do jornal "El Tiempo", previu que com esse "triunfo político e de relações públicas" a beligerância das Farc crescerá. O Exército perde a guerra, opinaram 64% dos consultados numa pesquisa.
Ao mesmo tempo, a humilhação sofrida pelas Forças Armadas fortalece a linha dura militar, contrária a negociações com os grupos guerrilheiros. Seu ex-comandante general Bedoya Pizarro caiu no dia em que Samper disse no Congresso que o "respeito aos direitos humanos é a chave da paz" -nada indica que o substituto de Bedoya, o general Manuel Bonnet, se disponha a aceitar a "agenda civil".
O terror é tanto que se transforma em arma política. Em 26 de outubro haverá eleições municipais. O pano de fundo são 47 prefeitos assassinados nos últimos dois anos, 12 sequestrados e massacre de 120 vereadores.
O medo faz com que muitas cidades não tenham candidatos. A violência não se limita à "guerra suja" entre guerrilheiros e militares, sob pressão inclusive da diplomacia dos Estados Unidos para que respeitem direitos humanos. Também estão na arena o narcotráfico e esquadrões da morte, em geral a serviço de proprietários rurais.

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