São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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SP ganha mais um hospital para aborto legal

PRISCILA LAMBERT
MALU GASPAR

PRISCILA LAMBERT; MALU GASPAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Secretaria da Saúde aprovou que mais um hospital público, a ser escolhido até dezembro, faça parte do programa

A Secretaria da Saúde de São Paulo pretende ampliar o serviço de aborto permitido por lei em pelo menos mais um hospital do Estado, independentemente de opresidente Fernando Henrique vetar ou não a regulamentação da lei que obriga todos os hospitais do SUS a realizarem o aborto previsto no Código Penal.
Existem atualmente no Estado apenas três hospitais que realizam o aborto legal (quando a gravidez é ocasionada por estupro ou há risco de vida para a mãe): o Hospital Jabaquara e o Pérola Byington, na capital, e o Centro de Assistência Integral à Mulher da Unicamp, em Campinas (99 km de SP).
"É insuficiente oferecer apenas três locais com o serviço se considerarmos que existem cerca de 9 milhões de mulheres em idade fértil em São Paulo e os índices de violência sexual são alarmantes", diz a coordenadora da área de saúde da mulher do Estado, Tânia Lago.
No ano passado, foram registradas 1.953 boletins de ocorrência devido a estupros nas delegacias de São Paulo. No primeiro semestre deste ano, esses números chegaram a 883.
Não existem levantamentos sobre o percentual de mulheres que engravidam como consequência de violência sexual.
Para Jefersson Drezett, chefe do serviço de violência sexual do Hospital Pérola Byignton, aumentar o número de hospitais que façam interrupção legal de gravidez pode não ser a solução.
"Nós, por exemplo, temos capacidade para quintuplicar o nosso atendimento, mas não temos essa demanda porque a população conhece pouco o serviço e não chega até nós", afirmou.
A proposta de levar o programa para mais um hospital do Estado já foi aprovada pelo Conselho Estadual de Saúde. Segundo Tânia, até o final do ano o novo hospital já estará realizando o aborto legal.
A secretaria contará com a ajuda de um dos médicos que implantaram o serviço no Hospital Jabaquara para escolher o próximo hospital que oferecerá o serviço.
"Também propusemos que os outros municípios do Estado considerem a adoção do serviço. O médico dará consultorias a quem se interessar", diz Tânia.
Neste ano, 38 mulheres procuraram o serviço do hospital, e apenas 11 abortos foram realizados.
O pedido de aborto foi negado a mulheres com tempo de gestação superior a 12 semanas ou por falta de documentos que comprovassem o estupro.
O Hospital Pérola Byington recebeu 350 casos de estupro desde o final de 1993. A violência gerou gravidez em 90 mulheres, das quais 45 se submeteram ao aborto legal. Das outras 45, a maioria tinha gestação muito avançada, que já não podia ser interrompida.
Tânia Lago concorda que haja um subaproveitamento do serviço por parte das mães. "O problema é que o programa está muito centralizado. É preciso ampliar o número de hospitais para facilitar o acesso às mulheres", diz.

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