São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Família acha cemitério

RUBENS VALENTE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PEDRO JUAN CABALLERO (PARAGUAI)

A família do fiscal da aduana paraguaia Enrique Boaventura Perez, 30, usou 50 homens, 15 carros, avião, cães, 300 mil panfletos e já gastou US$ 150 mil tentando localizá-lo, até agora sem sucesso.
Perez e seu colega Oscar Alonso Garcia, 41, desapareceram em 16 de novembro de 95, horas depois de terem sido parados em uma barreira do antigo GOF (Grupo de Operação de Fronteira), no município de Sanga Puitã (MS).
Depois de 40 dias de busca em 13 municípios sul-mato-grossenses da fronteira, a família descobriu um cemitério clandestino a 15 km de Itahum (MS) e a 70 km da fronteira.
Com enxadas, o grupo desenterrou quatro corpos enrolados em sacos plásticos, em covas rasas e adiantado estado de putrefação.
Um dos corpos, com uma marca de bala no crânio, seria de Oscar Garcia, reconhecido por uma cicatriz nas costas, mas sua identidade nunca foi confirmada.
Todas as noites, desde o dia do desaparecimento, a mãe de Enrique, Genebalda Perez, 51, acende velas, aperta uma camiseta regata do filho e reza a três santos, junto com a família em sua casa, em Pedro Juan Caballero, Paraguai, na divisa com Mato Grosso do Sul.
"Ainda tenho esperanças de que ele esteja vivo", disse Genebalda.
Enrique trabalhava no posto da aduana paraguaia na cidade de Tanará, localidade de Ipejun. Quando ia visitar a família em Pedro Juan, fazia o percurso pelo território brasileiro.
Na tarde em que sumiu, Enrique chegou à casa da mãe contando que ele e Oscar haviam ficado três horas detidos sem acusação formal numa barreira do GOF próxima a Sanga Puitã.
No início da noite, os dois resolveram voltar para Tanará pelo mesmo caminho. O carro que usavam, um Corcel, foi encontrado dias depois em poder de policiais paraguaios.
O chefe do DOF, Nilton Ferreira, 39, nega envolvimento e diz que não há provas contra a unidade.
(RV)

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