São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Ritual atrai carioca para Santa Teresa

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

No quente inverno carioca, muita gente já antecipou as tradicionais badalações do verão elegendo dois novos pontos da moda no Rio: o bar Simples Mente e o Terreiro da Dona Célia, ambos em Santa Teresa (região central).
Uma moda alternativa, como pede o perfil desse tradicional bairro, que guarda características arquitetônicas do Rio antigo. Nada parecido com os frenéticos locais da cidade frequentados pelos chamados "mauricinhos" e "patricinhas".
Intelectuais, artistas plásticos, estudantes, jornalistas e músicos de várias idades, classes sociais e áreas da cidade formam o perfil básico dos frequentadores desses dois pontos.
"A moda agora é subir para Santa Teresa", diz a jornalista Margarida Autran, que sempre que pode dá uma passada para conferir as duas atrações. "O Simples Mente é um lugar agradável, bonitinho. Virou 'point'."
Aos sábados à noite, para muitos, o roteiro de diversão começa por volta das 21h no Terreiro da Dona Célia, à rua Aurea, 24. Músicos e dançarinas apresentam um show de jongo, ao som de atabaques, viola de dez cordas, violão e cavaquinho.
Esta manifestação "religiosa e profana da cultura afro-brasileira", como define o historiador, pintor e músico Messias dos Santos, 52, diretor do espetáculo, tem atraído estudantes universitários em busca de informações sobre o jongo.
Ritual religioso e musical oriundo dos negros bantos de Angola, o jongo de Santa Teresa é "importado" do morro da Serrinha, em Madureira (zona norte), pelas mãos do mestre Darcy, do terreiro de umbanda Vovó Joana.
"O jongo é uma coisa muito profunda para a nossa cultura do Sudeste. É como se fosse o blues rural nos Estados Unidos", diz Santos.
Para ele, o sucesso se deve ao jeito simples do lugar -o show é realizado ao ar livre, em pequeno terreno ao lado de um boteco- e ao astral de Santa Teresa. "Antes rola um Pai-Nosso, uma Ave-Maria. É uma coisa serena, respeitosa."
Quando o jongo acaba, por volta das 2h de domingo, muitos dos frequentadores se mudam para menos de um quilômetro adiante, na rua Paschoal Carlos Magno, 115, onde fica o bar Simples Mente.
Com quadros na parede e até um sofá, o bar cativa a clientela pelo seu jeito caseiro, acolhedor. E também por fechar perto do sol raiar. O Simples Mente funciona nas noites de segunda a sábado, a partir das 20h.
"Acho um bar superespecial, muito charmoso. E a sopa de inhame é maravilhosa", afirma a artista plástica Dayse Cunha, encantada também com a programação musical "de bom gosto", que inclui CDs de jazz e MPB.
Aproveitando o bom tempo do inverno carioca, muitos dos frequentadores pegam seus copos de bebidas e vão conversar do lado de fora. "O que mais escuto aqui é casal dizendo que se sente em casa", afirma Maria Dulce, sócia do bar. "Aqui é tranquilo, não tem guardador de carro, todo mundo se conhece. Santa Teresa tem essa coisa mais provinciana", diz o sócio Teo de Almeida, 36.

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