São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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O vaivém das Bolsas

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

As fortes oscilações nas Bolsas nas últimas semanas, tanto na de São Paulo quanto na de Nova York, têm causado preocupações. A pergunta é se as Bolsas mundiais estão prestes a ter uma queda generalizada.
Uma análise mais objetiva da situação indica que não é este o caso. Quase todas as Bolsas mundiais tiveram ganhos excepcionais nos últimos anos, com exceção da japonesa, devido a fatores locais, e caminham agora para certa estabilização.
Só neste ano, a Bolsa de Nova York teve ganho de 22%, Londres, 20%, e na Alemanha e na Holanda, mais de 50%. Desde 1991, o valor das ações dobrou na França e na Inglaterra e mais do que triplicou nos Estados Unidos e Alemanha. Nos Estados Unidos, a alta da Bolsa fez crescer em US$ 5 trilhões o valor das ações nos últimos dois anos e meio.
O que explica essa exuberância de ganhos é a liquidez folgada existente nos mercados internacionais, taxas de juros baixas e aumentos nos lucros das grandes corporações, impulsionados pela modernização tecnológica poupadora de mão-de-obra.
Evidentemente, não se poderia esperar que esses ganhos espetaculares continuassem a se acumular, pois, fundamentalmente, o valor das ações depende do valor econômico das empresas e das expectativas de lucros futuros. Embora ainda se esperem mais ganhos de lucratividade com as novas tecnologias informatizadas, a produtividade das empresas teria de crescer cerca de 5% ao ano para dar sustentação ao ritmo de crescimento dos pregões, uma taxa muito elevada.
Assim, alguma estabilização deve ocorrer daqui para a frente. Nada sugere uma queda generalizada nas Bolsas americanas e européias, pois a liquidez internacional continua elevada, ainda que as taxas de juros de curto prazo possam subir um pouco.
As recentes oscilações da Bolsa de Nova York refletem a expectativa de que as taxas de juros de curto prazo devam subir devido a pressões inflacionárias que estariam ressurgindo e a projeção de menor crescimento dos lucros de alguns setores.
O mais provável, para os próximos meses, é o crescimento mais moderado dos pregões de Nova York e Frankfurt. Se houver essa estabilização, poderão sobrar mais recursos para aplicação nas Bolsas de mercados emergentes.
O índice da Bovespa, por exemplo, sofreu queda de 13% nesse mês até o dia 21, mas nos 12 meses anteriores teve ganho de 77%. Como o processo de privatização está ganhando velocidade e ainda há empresas cujas ações apresentam possibilidade de valorização, esse índice deve ter ganhos a médio prazo.
Por outro lado, o susto tomado por investidores locais, principalmente os pequenos, com as quedas recentes do índice, aliado ao ambiente propício para boatos com a aproximação da eleição de 1998, torna o cenário propício para muita oscilação. Assim, mais do que nunca, investir em ações exige boa avaliação dos riscos da conjuntura comparado com a possibilidade de ganhos futuros.

Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.

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