São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Embraer faz evolução para sair do vermelho

CLÁUDIA PIRES
ENVIADA ESPECIAL A SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Sem esperança de voar em céu de brigadeiro por enquanto, a Embraer -única grande fabricante de aviões da América Latina- acredita que neste ano possa, pelo menos, sair do vermelho pela primeira vez na década.
A Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) enfrenta um prejuízo crônico que se agravou a partir dos anos 90, depois do corte dos subsídios que a sustentavam.
Entre 1990 e 1994, quando foi privatizada, a empresa acumulou prejuízo superior a US$ 1,6 bilhão. Nos dois anos seguintes, continuou perdendo dinheiro, embora em menor quantidade -somados, foram US$ 346,9 milhões.
A Embraer ensaia zerar o resultado anual turbinada por vultosas encomendas internacionais. Os contratos em carteira chegam a US$ 2,7 bilhões. Em junho, por exemplo, acertou a venda de 67 jatos EMB-145 para a American Eagle. Valor: US$ 1 bilhão.
Tal desempenho no exterior valeu à Embraer acusações de ainda se beneficiar de subsídios, disputa que hoje se desenrola no âmbito da OMC, organização que faz o papel de xerife do comércio mundial.
Inferno astral
A turbulência que marcou os anos 90 não foi provocada apenas pelo fim dos subsídios -decisão tomada pelo governo do então presidente Fernando Collor.
"Também nessa época, a demanda internacional caiu muito por causa da Guerra do Golfo", disse à Folha o presidente da empresa, Maurício Botelho.
Os dois fatos somados fizeram a Embraer começar a despencar em parafuso. Naquele ano, por exemplo, o quadro de funcionários foi cortado de 13 mil para 9 mil pessoas, o que detonou uma pilha de processos trabalhistas que ainda hoje está nas mãos da Justiça.
O pior, no entanto, ainda estaria por vir. Botelho considera 1994 o pior ano da história da empresa.
"A Embraer tinha produtividade de US$ 40 mil por pessoa", diz ele, acrescentando que o nível era um terço do atual. "Além disso, o número de contratos em carteira era irrelevante e o endividamento chegou a US$ 400 milhões."
Nova decolagem
Com a privatização, uma nova história começou a ser contada.
A injeção de dinheiro dos novos acionistas -grupo Bozano, Simonsen, Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil) e Sistel (fundo dos funcionários da Telebrás)- permitiu à Embraer reatar contatos dentro e fora do Brasil.
"Começamos a reconstruir nossas relações com os clientes e a reduzir custos", afirma Botelho.
A nova realidade se refletiu na forte valorização das ações da empresa. Neste ano, o papel da Embraer subiu 87% até sexta-feira, enquanto no mesmo período o índice Bovespa, que mede o desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo, evoluiu 58%.
Nos últimos 12 meses encerrados em julho, a valorização havia sido ainda mais expressiva -de 340%, segundo Marcelo Starec, analista de investimentos do banco Bozano, Simonsen. Ele acha que o papel dobra de valor em mais um ano.
Para continuar crescendo, a Embraer não descarta alianças com empresas estrangeiras. Essa é, afinal, uma tendência mundial.
"Em todos os setores industriais, os recursos necessários ao desenvolvimento tecnológico exigem alianças", diz Botelho.
Mas as alianças eventuais não chegam a ser prioridade. Pelo menos, não por enquanto. Primeiro, diz Botelho, é preciso que a Embraer se estabeleça no mercado.
"A aliança tem que ser de igual para igual", afirma ele.

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