São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997 |
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"Perdemos o espaço público"
JORGE WILHEIM O problema não é a dimensão da cidade, mas a oportunidade que as pessoas têm de usufruir dela. Nós vivemos numa cidade que, certamente, é pior do que Paris do ponto de vista da quantidade de pessoas que podem usufruir dela, mas também do ponto de vista da cultura e do uso da cidade.Em Paris, para citar um exemplo de que ambos gostamos, o espaço público é um espaço de todos, é um espaço agradável, é um espaço seguro, inclusive. Aqui o espaço público ultimamente, nos últimos anos, é um espaço do inimigo, que a gente não sabe qual é, mas é uma terra de ninguém, na melhor das hipóteses. Nós estamos perdendo o espaço público. No momento em que o cidadão perde o espaço público, a cidade lhe oferece muito menos (...). A reconquista do espaço público tem que ser uma estratégia básica. Nós temos -em São Paulo e muitas outras cidades- que ser capazes, politicamente e socialmente, de reconquistar o espaço público. Quer dizer, crianças devem poder voltar a brincar na rua ou se socializarem na frente de casa e não apenas em lugares fechados (...). O futuro da cidade está no futuro daquilo que Olgária Matos falava, nesse novo humanismo que vai caracterizar, no meu entendimento, o século 21. Um novo humanismo em que valores de antes e valores novos vão provavelmente reconduzir aos valores do classicismo, mas, evidentemente, numa outra época, num outro nível. Não sabemos como vai ser o humanismo do século 21 e, enquanto nos transformamos em enciclopedistas que têm que descobrir conceitos de palavras para definir o futuro, o nosso desafio é a passagem, é a viagem, é a transição, é o trauma. É um trauma doloroso e penoso da grande mudança pela qual a sociedade está passando. Texto Anterior: A paisagem descuidada Próximo Texto: "O automóvel é o cidadão" Índice |
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