São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Com medo do pai, garota aborta e se arrepende

DA REPORTAGEM LOCAL

Letícia (nome fictício), 18, está há cinco dias internada no Hospital do Jabaquara tratando uma infecção uterina, fruto de um aborto com Cytotec. Ela foi submetida a curetagem e toma antibióticos.
Quando descobriu que estava grávida, há cerca de dois meses, a primeira pessoa que procurou foi a mãe, que a aconselhou a abortar. O maior medo era a reação do pai, que poderia expulsá-la de casa.
Letícia vai se casar dentro de dois meses. "Só pensei no que meu pai poderia fazer com a gente e que todo mundo iria me culpar."
Letícia procurou a prima, que já havia abortado com chás de ervas. Segundo ela, os chás só a fizeram passar mal. Resolver recorrer ao Cytotec, comprado em farmácia por R$ 150,00. Tomou dois comprimidos e colocou outros dois na vagina. Quatro dias depois, procurou o médico e foi internada imediatamente, com o diagnóstico de "aborto infectado".
O pai de Letícia não sabe que ela está no hospital. Ela não contou para o namorado que provocou o aborto. "Ele queria muito o filho."
Diz que hoje teria agido diferente, mesmo tendo que enfrentar o pai. Para ela, o aborto só deveria ser permitido quando há risco para a saúde da mãe. Depois de interrompida a gravidez, a sensação que ficou foi uma mistura de alívio e culpa.
A maior lição que tirou da experiência? "Aprendi que qualquer outra coisa na vida é menos difícil do que passar por um aborto."

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