São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Bispo quer que igreja adote filho de estupro

ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA; DA REDAÇÃO

LUIS HENRIQUE AMARAL
O bispo auxiliar de São Paulo, d. Angélico Sândalo Bernardino, defendeu ontem que a Igreja Católica assuma as crianças geradas por estupro e rejeitadas pelas mães.
"Não se pode matar o filho. Aquela mãe que, por problemas psicológicos, afetivos ou econômicos, não pode ficar com ele, que a comunidade eclesial acolha essa criança", declarou.
A declaração do bispo foi dada em Brasília, onde ele participa da reunião do Conselho Episcopal de Pastoral e de presidentes de regionais da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Segundo d. Angélico, responsável pela região da Brasilândia (zona noroeste de São Paulo), a pesquisa Datafolha que mostrou que a maior parte dos paulistanos apóia o projeto de aborto legal não vai influenciar a posição da igreja. "Nossa postura é fiel à palavra de Deus, que disse 'não matarás'."
Segundo o Datafolha, a maioria da população da cidade de São Paulo é favorável ao aborto em caso de estupro (77%) ou quando há risco de vida para a gestante (79%). Os pesquisadores entrevistaram 1.080 pessoas acima de 16 anos na cidade de São Paulo.
Entre os católicos, a aprovação ao projeto que regulamenta o atendimento ao aborto legal na rede pública de saúde foi de 55%, contra 62% dos evangélicos pentecostais, 63% dos não-pentecostais e 54% dos espíritas kardecistas.
O projeto, aprovado na Comissão de Constituição de Justiça da Câmara dos Deputados na semana passada, tem de ser votado no plenário e no Senado antes de ser enviado à sanção presidencial.
Os católicos ouvidos se declararam favoráveis ao aborto também nos casos de má-formação do feto e quando a gestante tem Aids.
O ex-presidente da CNBB d. Ivo Lorscheiter disse que a pesquisa revela uma "derrocada de valores éticos" na sociedade. "Isso acontece mesmo entre os católicos, que são a maioria. A corrupção também existe entre os católicos."
O apoio dos católicos entrevistados cai nos casos de aborto por falta de condições financeiras dos pais (22%), gravidez indesejada (20%), mãe menor de idade (19%) e quando o pai não quiser assumir a criança (12%).

LEIA MAIS sobre o aborto nas páginas 2, 3 e 4

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