São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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Falta-nos 'maior bandido'

ROGÉRIO SGANZERLA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Buscamos arte e poesia onde estivesse. Vida, glória e morte de um bandido num faroeste sobre o Terceiro Mundo. Hoje uma referência fundamental para quem conhece um pouco do nosso cinema.
Em 1997 podemos falar em súmula de tudo o que havia sido feito no gênero e o modelo do que ainda se faria entre nós e lá fora também funcionando como uma comédia criminal reunindo todo o kitsch do subdesenvolvimento. Tentamos fazer um filme de cinema narrado por um comentarista esportivo.
1967 - Em primeiro lugar e antes de mais nada, denominamos "Luz" a concepção e execução de um projeto de filmagem revolucionário para a época e para o nosso cinema. Tentaríamos antes de mais nada optar um poderoso experimento. Nada de fórmulas estratificadas -um homem ousava desafiar o sistema policialesco então no apogeu, exercendo um serviço muito profissional.
Mas o que era profissional em termos de crime nos idos de 1967? Usar botinhas coloridas ou colete com gola rulê? Na ocasião confessei. Fiz um filme panfletário, poético, sensacionalista, selvagem, malcomportado, sanguinário, pretensioso e revolucionário.
1997 - O Terceiro (i)Mundo faliu e a ciência atômica pôs o Apocalipse ao alcance de todos. Cabe uma última indagação: quem é o maior bandido vivo do Brasil? O mais velho detento do Carandiru ou a quadrilha de anões larápios em Brasília, onde não existem criminosos organizados, só cúmplices?
Mas quem vai confiar no talento de autor de cinema imaginário? Nem o premiado autor dessas linhas tinha escapado à mediocridade imposta àquele tema-tabu...
O elitismo burocrático não poderia suportar a explosão de criatividade que revolucionou o cinema brasileiro na mesma medida em que o Luz revolucionou o crime nacional. E tudo graças ao cinema.
Graças a Deus, "L'Expresso", de Milão, observou: "O Bandido da Luz Vermelha" é "um vero capo-lavoro" (obra-prima).

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