São Paulo, sexta-feira, 29 de agosto de 1997
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CUIDADO, ESTADO À VISTA

Já se tornou monótona a mania dos burocratas, diante de problemas graves, de convocar uma reunião e nomear uma comissão especial.
O desajuste no comércio exterior brasileiro é um desses problemas que incomodam muita gente e levam preocupação aos credores internacionais. E o governo já anunciou a criação de uma comissão especial -mais uma-, ligada ao secretário da Casa Civil, Clóvis Carvalho (que aliás já coordena outras câmaras setoriais), para articular políticas para os setores elétrico, de telecomunicações e de informática. O objetivo maior é aumentar a capacitação nacional nessas áreas, com o fim de reduzir as importações.
É importante registrar que o tema em si -política industrial- sempre foi descartado como desvio intervencionista por membros da equipe econômica, a começar pelo presidente do Banco Central, Gustavo Franco.
O anúncio da nova câmara é, parece, mais um sinal do pragmatismo que aos poucos acomete o governo diante das dificuldades para aumentar a competitividade de alguns setores e reverter a preocupante tendência de aumento do déficit comercial.
De fato, vários países adotaram variantes de políticas de apoio setorial de acordo com opções estratégicas. Os asiáticos, por exemplo, apostaram recursos públicos e coordenaram investimentos privados para promover exportações de produtos intensivos em novas tecnologias. Mesmo nos EUA vários governos apoiaram setores-chave. No primeiro mandato Clinton sua política industrial motivou intensos debates.
Políticas industriais não são boas ou más em si mesmas. Propor ou usá-las não é ser de direita ou de esquerda. Mas os riscos de burocratismo e corrupção, favores sem limite no tempo e mesmo de equívocos conceituais não são pequenos.
Criada a nova comissão, espera-se que o debate sobre seus objetivos e instrumentos seja muito mais amplo e intenso do que se viu até agora. Antes que seja tarde demais.

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