São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 1997
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Polícia do Rio invade morro e fecha 'clube' de traficantes

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Um clube equipado com piscina, sauna, churrasqueira, salão de jogos e terraço foi montado pelo traficante Reinaldo de Souza Costa, o Cadeira, para o lazer dos moradores do morro Camarista Méier (zona norte do Rio).
Vinculado à facção criminosa CV (Comando Vermelho), Cadeira inaugurou há cerca de quatro meses, no alto da favela, o clube particular recém-descoberto pela DRE (Divisão de Repressão a Entorpecentes) da Polícia Civil.
A partir de maio, bebida farta, churrascadas, pagodes e até um concurso de beleza passaram a animar os fins-de-semana da favela, de acordo com moradores ouvidos pela Folha.
A festa no Camarista Méier terminou na tarde do último dia 22, quando uma equipe de policiais civis foi à favela à procura de Cadeira.
O clube montado por Cadeira fica em local de difícil acesso. Para chegar até lá, é necessário passar por vielas a partir de um beco da rua Antônio de Souza Mendes até o alto do morro.
A sede do clube, pelo lado de fora, parece uma casa de família rica. O acabamento é luxuoso em relação aos prédios vizinhos, com telhas de cerâmica, pintura nova e ar refrigerado.
Para ter noção do que funciona na casa, é preciso subir quase ao topo da favela. De lá, avistam-se a piscina, as cadeiras empilhadas no terraço, o telhado da churrasqueira e o motor da sauna elétrica. No primeiro pavimento, há um salão de jogos, com mesas de pingue-pongue e sinuca.
A morte de Cadeira interrompeu a diversão da favela. Desde que ele morreu, o clube não abre. A piscina foi esvaziada. O sucessor de Cadeira no controle do tráfico, conhecido por Lau, não demonstrou, até agora, disposição de reabrir o clube.
Cadeira controlava havia dez anos a venda de maconha e cocaína no morro. Segundo a polícia, ele também era dono dos pontos-de-venda de drogas nos morros do Outeiro (Água Santa, zona norte) e Caixa D'Água (Piedade, zona norte).
Criado no morro, Cadeira era um ídolo local. Além do lazer proporcionado pelo clube, ele distribuía comida e remédios para famílias da favela.
"Não havia quem não gostasse dele. Era um pai para a gente", disse o comerciante José Lima.
Para entrar no clube, bastava ser amigo de Cadeira. A festança começava na noite de sexta-feira, com uma roda de samba. O pagode entrava pela madrugada e continuava no sábado, com farta distribuição de cerveja, cachaça e carne na brasa.
Em julho, Cadeira realizou concurso para eleger a mais bela garota da favela. O clube lotou.

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