São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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FHC contra-ataca

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Fernando Henrique Cardoso está irritado com Mário Covas e os governadores tucanos que ensaiam uma reação em série contra o Planalto. Tão irritado que ameaça jogar a toalha e desistir da reeleição.
"Eles têm um outro nome? Então, que o lancem", disse FHC em pelo menos duas conversas reservadas, ao longo desta semana.
Se "eles" têm esse outro nome, o presidente diz que sai de cena e se compromete a não atrapalhar.
Se não têm, o que é muitíssimo provável, ele vai cobrar a responsabilidade deles com o governo e a sua candidatura. Tentará provar que não se trata de um projeto pessoal, mas de um projeto político comum a todos.
No íntimo, no íntimo, Fernando Henrique Cardoso está longe de dar uma de Covas e jogar a reeleição para o alto. Mas as conversas aqui relatadas existiram e mostram que ele está de péssimos bofes. Leia-se: Covas bateu no fígado.
"O que mais o Covas quer? São Paulo teve tudo. O que mais o (Antônio) Britto quer? O Rio Grande do Sul nunca teve tanto. O que mais o Almyr (Gabriel) quer? Até eu paguei o pato por Eldorado do Carajás", disse FHC numa das conversas.
Ele também vem repetindo que "eles devem a eleição a mim, não eu a eles". Atribui a insubordinação de Covas à "mania de se passar por vítima". E a dos demais ao "medo da derrota".
Encastelado com assessores leais e cumpridores de seus deveres, FHC insiste num erro de origem do seu governo: a crença de que as pesquisas substituem o faro e a experiência de um bom articulador político.
Falta-lhe aquele assessor cheio de malícia, que conversa com todo mundo e avalia com mais propriedade os movimentos políticos. Certamente não um Luiz Carlos Santos.
De qualquer forma, a ameaça de desistir da reeleição pode ser um lance de mestre de FHC. Covas parecia ter dado um xeque-mate, mas o presidente mostra que ainda tem muito jogo.
Se a candidatura do governador é considerada insubstituível em São Paulo, o que dizem os tucanos sobre a do presidente em Brasília?

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