São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 1997
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Guerra das vans

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - É sempre assim: toda vez que o Estado não cumpre seu papel, não ocupa seu espaço na organização e gestão dos mecanismos da sociedade, a ilegalidade o faz, surgindo daí, em geral, o caos.
O exemplo mais gritante dessa situação é a vivida nas favelas do Rio de Janeiro.
A população que ocupa as mais de 400 favelas da cidade vive à mercê da criminalidade porque o poder público é ausente. Sem polícia, sem posto de saúde, sem escola, sem creche, sobra espaço para o traficante, que manda e desmanda.
Ontem, a manhã foi de transtorno, aborrecimentos e violência no Rio por causa dos donos de vans. Impedidos de realizar o transporte de passageiros, como vinham fazendo havia meses protegidos por liminar da Justiça, os motoristas resolveram tumultuar o trânsito, obstruindo vias cruciais para o tráfego da cidade e criando muita confusão. Confusão que deve continuar, assim como a atuação, agora ilegal, das vans.
Aí que entra a questão: é ilegal, mas existem e são necessárias. Por quê? Porque o poder público não cumpre o seu papel precípuo de oferecer aos cidadãos meios de locomoção eficientes e em número adequado às suas necessidades.
Estima-se que há em atividade de transporte público no Rio 12 mil vans.
Elas só existem, só atuam porque há demanda -lei básica da economia. E só há a demanda porque o transporte urbano é escasso e ineficiente.
Se os ônibus que circulam na cidade ao preço de R$ 0,60 atendessem adequadamente às necessidades do cidadão, ele não iria gastar R$ 3 para viajar de van.
Simplesmente impedir que esses veículos circulem sem oferecer outra alternativa de transporte é punir o cidadão.
Não se deve permitir, é certo, que passageiros sejam transportados ilegalmente. Mas regularizar a situação seria a maneira mais adequada de não atender apenas aos interesses dos proprietários das empresas de ônibus.

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