São Paulo, sábado, 20 de setembro de 1997
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Malan reclama do FMI e da imprensa

CELSO PINTO
DO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

"Não precisamos do alerta de ninguém", reclamou o ministro da Fazenda, Pedro Malan, numa longa diatribe contra o que o FMI fala do Brasil e o que a imprensa diz que o FMI falou do Brasil.
O ministro aproveitou uma entrevista à imprensa brasileira em Hong Kong para relembrar velhas queixas contra o FMI. "O FMI sempre foi terrivelmente cauteloso com o Brasil", reclamou. Não apoiou a renegociação da dívida externa. "Teve uma visão de um ceticismo total desde o início" em relação ao Plano Real.
Contraditoriamente, embora tenha reclamado contra a perene atitude de cautela do fundo contra o Brasil, atribuiu a cautela recente a dois novos fatores: um "hedge intelectual" e distorções da imprensa brasileira.
O "hedge" se explica porque, como o FMI foi duramente cobrado por não ter alertado para a crise mexicana em 94 e a tailandesa neste ano, agora quer, por via das dúvidas, sempre passar a impressão de cautela em relação aos países. A imprensa brasileira, por sua vez, errou ao transformar "uma frase inócua, de conteúdo zero" no relatório do FMI, sobre excessos fiscais e do déficit externo brasileiro, em algo mais importante.
Ele acha que a relação do Brasil com o FMI e o Banco Mundial é importante pelo uso do conhecimento internacional destas instituições como apoio técnico a projetos brasileiros. "A vantagem é essa, não é (a de eles) explicarem como a economia brasileira deve ser gerida", disse.
Mesmo assim, definiu as relações do Brasil com o FMI como a de "um diálogo muito estreito". Tanto assim que, a pedido do Brasil, o FMI envia duas e não uma missão por ano para avaliação da economia. O Brasil não segue o exemplo de outros países e autoriza a publicação do conteúdo destas avaliações, segundo Malan, porque, se o FMI soubesse que o conteúdo seria publicado, tenderia a ser mais cauteloso. O ministro diz que sempre pede ao FMI que seja de uma "brutal franqueza".

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