São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997
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Educador quer creche 'igual' a pré-escola

FERNANDO ROSSETTI
ENVIADO ESPECIAL A CAXAMBU (MG)

A 20ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped), iniciada anteontem à noite em Caxambu (MG), tornou-se o principal fórum de debate e formulação de metas alternativas à proposta de Plano Nacional de Educação do Ministério da Educação (MEC).
O plano, que deve ser enviado ao Congresso até 23 de dezembro, estabelece as orientações e metas de todos os níveis de ensino para a década que vai de 1998 a 2007.
O MEC já formulou um documento com suas propostas iniciais de metas, que está em discussão até 15 de outubro entre entidades como a Anped.
O grupo que chegou à reunião anual com a proposta alternativa à do MEC mais bem delineada é a Equipe de Pesquisas sobre Creche da Fundação Carlos Chagas (FCC), de São Paulo, que tem entre seus membros a presidente da Anped, Maria Malta Campos.
Educação infantil
A educação infantil (0 a 6 anos) é vista pelos educadores da Anped como um dos pontos mais fracos das atuais reformas que os governos (tanto federal como alguns estaduais) estão implantando no sistema de ensino brasileiro.
Pelo projeto do MEC, por exemplo, há uma nítida priorização de recursos para o ensino fundamental (o 1º grau). Entre as metas do governo está a de que, em cinco anos, a oferta de pré-escola para crianças de 6 anos seja universalizada e transformada em uma série a mais do 1º grau.
O capítulo de educação infantil da proposta de plano do MEC dá tratamento diferente para as creches (0 a 3) e pré-escolas (4 a 6). A primeira tem uma concepção mais assistencialista (voltada para o atendimento de famílias carentes); a segunda, uma visão mais escolar.
Para o grupo da FCC, tanto as creches como as pré-escolas devem receber um tratamento igual no plano de metas.
"Ambas são instituições educacionais que integram o educar e o cuidar da criança", afirma Fúlvia Rosemberg, pesquisadora da FCC e professora de psicologia social da PUC de São Paulo.
Para ela, a proposta do MEC para o ensino fundamental "está muito boa". "A questão é que a educação infantil também deveria receber a mesma atenção."
Alfabetização
Atualmente, as pesquisas na área de educação e neurologia mostram que a aprendizagem da leitura e escrita, por exemplo, deve começar muito mais cedo do que aos 7 anos de idade, como determina a Constituição.
As duas questões centrais que o grupo da FCC quer incluir no Plano Nacional de Educação são obrigar as creches a ter profissionais formados para esse trabalho e ter uma definição clara da infra-estrutura que essas instituições devem oferecer.
Pela proposta do MEC, as creches poderiam ter "agentes educativos" no lugar de professores -ou seja, "profissionais menos qualificados", segundo Rosemberg.
Em seu projeto, o MEC também não detalha a infra-estrutura das creches, enquanto para o ensino fundamental diz, por exemplo, que as instituições devem oferecer espaço de lazer e esporte e bibliotecas. "Crianças pequenas também precisam de livros e espaços para brincar", diz a pesquisadora.
Até o final da reunião anual da Anped, na próxima quinta-feira, uma série de documentos nos diversos níveis de ensino devem estar prontos para serem apresentados ao Ministério da Educação.

O jornalista Fernando Rossetti viajou a Caxambu a convite da Anped

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