São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997
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Carmela Gross cria com o ar que respira

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A artista plástica Carmela Gross abre hoje uma nova mostra na cidade, às 19h, no Centro Cultural São Paulo.
É possível dizer que se trata de uma exposição de fôlego, embora ela seja pequena. Pode-se dizer ainda que se trata de uma exposição de peso, embora ela seja leve e quase flutue. Poderia-se dizer também que se trata de uma exposição consistente, já que, embora construída sobre transparências, não pode passar despercebida.
Carmela Gross cria com o mesmo ar que respira, elemento que se repete nas salas que ocupa com dois de seus trabalhos e que é recorrente há 30 anos. Em 1967, participou de sua primeira coletiva, na Rex Gallery & Sons.
O trabalho era o vazio de moldes de gessos de possíveis esculturas. No mesmo ano, participou da 9ª Bienal e apresentou o belíssimo "Nuvens Recortadas em Madeira", hoje no acervo da Pinacoteca.
Para a mostra do CCSP, Gross criou a instalação "Feche a Porta", em que alinhou 18 peças bipartidas em metal, uma levemente diferente da outra. Em uma primeira vista, podem lembrar cadeiras virtuais, suspensas no ar, desconfortáveis e sem assento ou preocupação com design.
Em um segundo momento, porém, é possível observar que a peça-chave são as braçadeiras que as une à parede e lhes possibilita o movimento. Assim sendo, não são cadeiras, mas abraços, que cumprem sua função a partir do contato com a mão do espectador, como nas "Hélices" e vários outros trabalhos anteriores da artista.
Na sala ao lado, Gross reapresenta os painéis de "Projeto para Construção de um Céu", de 1980, em que retrata por meio de desenhos todo o Hemisfério Sul, dividido em 33 recortes.
Ao olhar o céu de Gross, o espectador se depara com o ar, seja nas imagens confeccionadas em nanquim e lápis de cor, seja na relação que o número 33 estabelece com os procedimentos médicos, que o utilizam para perscrutar as variações respiratórias do paciente.
A maioria deles foi confeccionada a partir da observação do céu, mas existe um que partiu da observação de uma aquarela de Constable. "É claro que é possível ver o céu dos impressionistas e dos aquarelistas ingleses. Eles têm uma carga conceitual que não está evidente", disse.
Gross pontilha esses céus com estrelas estéreis, matematicamente alinhadas, que não produzem ou refletem a luz, mas servem de guia para o caminho que ela deverá seguir para transformar massas de ar em linhas.
Tanta teoria não assusta a artista, que não teme a fuga do espectador. "A aproximação direta e sensível com o espectador sempre existe. Além do apelo conceitual, os trabalhos têm um apelo tátil e visual. As pessoas pegam pelo lado que quiserem", disse.
É difícil, mas não poderia ser diferente. O ar sempre dominou o espaço criativo da artista, e apanhá-lo não é das atividades mais simples. Mas ar não é vácuo e, assim sendo, os trabalhos de Carmela Gross sempre terão o seu lugar.

Mostra: instalações "Feche a Porta" e "Projeto para Construção de um Céu" Artista: Carmela Gross
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 277-3611)
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: de terça a domingo, das 9h às 22h. Até 29 de outubro

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