São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997 |
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Penderecki rege Orquestra Sinfonia Varsóvia
IRINEU FRANCO PERPETUO
Hoje, na série dos Patronos do Teatro Municipal, o programa é mais eclético, e inclui a "Sinfonieta nº 2", para cordas e clarinete, do próprio Penderecki (pronuncia-se penderétski), e a Sinfonia nº 5, de Schubert. Já o concerto de amanhã, na série da Hebraica, traz apenas Beethoven: a abertura "Egmont", que também será tocada na véspera, e a Sinfonia nº 3, conhecida como "Heróica". Dividindo o tempo entre as cidades de Cracóvia (Polônia) e Lucerna (Suíça) Penderecki é o atual diretor artístico da Sinfonia Varsóvia, que leva em turnês duas ou três vezes por ano. Penderecki falou com exclusividade à Folha de Buenos Aires (Argentina). * Folha - Como o sr. divide seu tempo entre a regência e a composição? Penderecki - É difícil. Nos últimos anos tenho regido muito mais do que queria. Tenho feito entre 50 e 60 concertos por ano o que, com as viagens, toma-me nove ou dez meses do ano. Assim, passei a compor durante as viagens. Folha - Como é esta "Sinfonieta nº 2", para cordas e clarinete, que a orquestra vai tocar no Brasil? Penderecki - É uma transcrição do "Quarteto" com clarinete, que escrevi há três anos. Tem quatro movimentos, e é uma de minhas últimas obras de câmera. Folha - Quando apareceu o "Sanctus", que o sr. escreveu para o seu "Réquiem Polonês", em 93, foi dito que Penderecki estava voltando à tonalidade. É verdade? Penderecki - Não, não (risos). Não escrevo música tonal. Algumas obras se aproximam da tonalidade, como o "Te Deum", e, no "Réquiem", a "Lacrimosa". Folha - O sr. se considera um compositor neo-romântico? Penderecki - Não. Comecei este movimento, que o sr. chama de "neo-romântico", com a "Paixão Segundo São Lucas". Lá pode-se encontrar elementos de "neo-romantismo". Às vezes, estou próximo da música romântica; às vezes, afasto-me. Mas este tipo de romantismo pode ser encontrado em qualquer tipo de música. Ele pode estar em um movimento curto de Bach, a "Ária", ou no movimento lento de qualquer concerto de Beethoven. Escrevo esse tipo de romantismo. Folha - Ainda é possível falar na "Escola Polonesa" de composição? Penderecki - Ah, sim! Nos anos 50 e 60, havia um grupo forte na Polônia -como na Alemanha, Itália e França, na mesma época. Os poloneses eram diferentes, por exemplo, da música que se fazia em Darmstadt (Alemanha). Quando fui para Darmstadt, em 61, já tinha escrito minha própria música, como a "Trenodia para as Vítimas de Hiroshima" e o "Quarteto de Cordas". Fui influenciado pela vanguarda ocidental, mas a dos anos 20, de Webern e Schoenberg. Folha - O que o sr. está compondo em sua turnê sul-americana? Penderecki - Estou terminando a peça que foi encomendada pela cidade de Moscou para celebrar seu 850º aniversário. É um "Hino a São Daniel", o patrono da cidade, no qual utilizo o velho texto litúrgico em eslavônico. Tenho pressa de terminá-la, pois a estréia está marcada para 4 de outubro. Folha - Quais são seus outros planos de composição? Penderecki - Muitos. Como todo mundo, quero ter alguma coisa para o ano 2000 (risos). Como cristão, gostaria de preparar algo para os 2.000 anos da cristandade, possivelmente um oratório, e já tenho uma encomenda da Ópera de Roma. Também escreverei um Concerto Triplo, para três violoncelos, para a Orquestra NHK, de Tóquio; e uma peça para a Filarmônica de Nova York. Além disso, tenho um contrato para escrever minhas sinfonias futuras para a Filarmônica de Munique. Já fiz as sinfonias de nº 3, 4 e 5 para eles. O resto -espero não passar de nove- tem de ficar pronto até 2011. Folha - O sr. já veio à América Latina várias vezes. Conhece algo de nossa música? Penderecki - Conheci muito bem Ginastera em 68, na primeira vez em que vim para cá. Também conheci outros compositores, mas dedico-me tanto à minha música que não sei muito bem o que os outros estão fazendo. Concerto: Orquestra Sinfonia Varsóvia, com Krzysztof Penderecki (regente) Quando: terça e quarta, às 21h Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 222-8698) Quanto: de R$ 5,00 a R$ 80,00 (terça) e de R$ 5,00 a R$ 70,00 (amanhã) Texto Anterior: Carmela Gross cria com o ar que respira Próximo Texto: Seminário no Instituto Goethe discute Adorno e Horkheimer Índice |
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