São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997
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Voluntários querem testar vacina para Aids

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Um grupo de 50 médicos, enfermeiras e militantes da campanha de combate à Aids estão dispostos a testar uma vacina contra a doença mesmo antes de ela ter sido aprovada pelo governo dos EUA. As autoridades médicas do país condenam a iniciativa, prevista para 1999.
O líder do grupo é Joe Zuniga, vice-diretor da Associação Internacional de Médicos Especializados em Aids, entidade sediada em Chicago. Zuniga, 41, considerado soldado exemplar, foi expulso do Exército em 1993, quando revelou em público ser homossexual.
Em 1996, foram diagnosticados 56.730 novos casos de Aids no país -6% a menos que no ano anterior. Foi a primeira vez desde 1981 que o número de doentes novos diminuiu nos EUA. O número de mortes causadas pela doença também caiu em 1996 pela primeira vez desde o começo da epidemia: 26% em comparação a 1995.
Mesmo assim, Zuniga acha que as 32.655 mortes registradas em 1996 são excessivas e se diz disposto a colocar sua própria vida em risco para impedir que tantas pessoas continuem morrendo. Ele diz ter se cansado de ver amigos e pessoas amadas morrendo de Aids.
Mas Mark Grabowsky, do Instituto Nacional de Saúde (NIH), discorda de Zuniga. Na sua opinião, experimentar vacinas contra Aids é prematuro. Grabowsky convidou Zuniga e seus colegas para discutir o assunto. Grabowski afirma admirar Zuniga: "Esse tipo de ativismo pode ser inspirador. Mas dúvidas científicas persistem".
A vacina que Zuniga pretende testar é a que está sendo desenvolvida em Boston por Ronald Desrosies, da Escola de Medicina da Universidade Harvard. Desrosiers afirma estar tendo sucesso com ela na proteção de macacos. Mas a avaliação muitos membros da comunidade científica internacional acham que os resultados obtidos por ele ainda não são conclusivos.
O grupo de Chicago afirma que o sucesso dos novos medicamentos que vêm prolongando a vida de milhares de enfermos com Aids é acessível a apenas 6% da população porque os remédios são muito caros. Daí, argumentam, a necessidade de se apressar a fabricação de uma vacina que seja eficiente.
As pessoas com Aids nos EUA em 1996 eram 235.470, 11% a mais do que no anterior. O principal responsável pelos novos tratamentos farmacológicos da Aids, David Ho, disse que desenvolve novas drogas para permitir a aplicação de apenas uma dose diária em vez das diversas atuais. Zuniga diz que não está sendo apressado ao fixar um prazo de dois anos para se deixar inocular: "Não quero fazer mal a ninguém".

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