São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 1997
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O cassino global

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Vai ser difícil encontrar frase mais reveladora de como funciona a economia globalizada do que a que encerra a entrevista à Folha de Paulo Leme, vice-presidente e economista-chefe do banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs.
Leme resume a crise de alguns países asiáticos e a perspectiva de contágio de outros, Brasil inclusive, com a seguinte frase: "É um mero problema de administração de carteira".
Ou seja, danem-se todos os problemas causados em um dado país pelo chamado ataque especulativo. Visto da ótica de quem tem dinheiro para investir, é apenas uma questão de tirar dali e colocar acolá, ou seja, "administrar a carteira".
É uma jogatina desenfreada. Com uma diferença essencial: no vício do jogo, os problemas causados ao jogador são todos decorrentes de sua própria ação.
Pode perder o emprego, a casa, a vida até, o que é tudo muito triste, mas não deixa de ser o exercício da liberdade de escolher o que fazer.
Na jogatina econômica globalizada, quem "administra a carteira" faz cálculos frios e os países são agentes passivos da brincadeira.
Claro que sempre haverá quem diga que um país que esteja com as contas em dia não será vítima de um ataque especulativo ou, se o for, conseguirá sair-se vitorioso.
Já houve mais de um exemplo de que não é bem assim. De todo modo, os investidores (os donos do cassino) embriagam os jogadores de uma forma que se vai tornando irresistível.
Como confessou o ministro tailandês da Fazenda, Thanong Bidaya, na reunião do FMI (Fundo Monetário Internacional): "Ficamos ricos demais, rápido demais".
É como no jogo: ganha-se a primeira mão, a segunda também, a sorte parece eterna. É aí que vem o tal ataque especulativo.
Nada contra o jogo, mas deve haver maneiras mais civilizadas de fazer a economia funcionar, não?

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