São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FRANCO ATIRADOR

As polêmicas do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI) são quase tão velhas quanto a própria instituição. Ocorreram no final dos anos 50, dos 60, nos 80 e nos 90. Já são portanto uma tradição, aliás infelizmente necessária num país que nunca, e agora menos ainda, consegue cumprir o princípio básico do Fundo: a austeridade fiscal.
Mas vai além da tradição o destempero das críticas do presidente do Banco Central, Gustavo Franco, contra o FMI. Afinal, em outros momentos o Brasil estava sujeito ao monitoramento do FMI ou dependia da instituição para rolar suas dívidas. Era compreensível que nossas autoridades se batessem com a comunidade financeira internacional em defesa das suas heterodoxias.
Hoje o Brasil não depende do Fundo, não pretende recorrer ao seu auxílio financeiro nem está sujeito ao seu monitoramento. Os tiros de Franco parecem portanto gratuitos.
Espera-se de presidentes de bancos centrais que sejam circunspectos, especialmente em relação a um tema delicado como o fluxo de capitais. Curiosamente, Franco acusa de primitivo o primeiro-ministro da Malásia, que andou passando pitos de baixo calão no financista George Soros. Deblaterar contra o FMI em plena reunião anual é um padrão que não destoa do que Franco critica.
Razões para irritação das autoridades econômicas brasileiras com o Fundo não faltam. O FMI criticou o Plano Real e até hoje levanta suspeitas fundadas sobre a consistência de um programa que três anos depois continua devendo um ajuste fiscal.
Franco ataca os princípios de liberalização de fluxos de capitais defendidos pelo Fundo. Mas o economista chefe do FMI, Stanley Fischer, reiterou que se tratam apenas de princípios, com toda a margem possível para o pragmatismo tão ao gosto das equipes econômicas brasileiras.
O presidente do Banco Central parece não ter escolhido o melhor momento nem o melhor espaço para exercitar sua pontaria.

Texto Anterior: ALIANÇAS DA PETROBRÁS
Próximo Texto: A freirinha no bordel
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.