São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 1997
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A freirinha no bordel

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O ministro Sérgio Motta (Comunicações) tem toda a razão nas críticas que disparou contra seu partido, ao renunciar ao cargo que ocupava na Executiva.
Pena que não tenha feito críticas nem sequer parecidas quando o PSDB filiou, antes, um punhado de "nilos coelhos". Pena que tenha esquecido que ele próprio estimulou muitas dessas filiações.
Pena que não tenha renunciado a seu cargo (no governo, não no partido) nem depois de ele próprio admitir que são "incestuosas" as relações entre o Congresso e o seu governo.
Ao contrário do que ocorreu agora, as críticas ao "incesto" não foram acompanhadas do abandono do cargo, com o espalhafato que se vai tornando habitual. Tão habitual que já virou folclórico.
Pena, ainda, que o ministro não tenha mais exibido a mesma indignação de agora com as alianças que o seu partido fez, quase Estado por Estado, com políticos que podem não ser piores do que Nilo Coelho, mas tampouco são melhores.
Pena, por fim, que o ministro tenha usado a expressão "partido-ônibus" para se referir ao PSDB, expressão de resto inventada por seu chefe, Fernando Henrique Cardoso, para designar o PMDB, o ex-partido de ambos.
Mais correto teria sido dizer "partido-motel-com-sauna". Afinal, não era nessa dependência que ele, seu governo e seu partido negociavam com a base parlamentar governista, segundo o próprio Motta?
Houve, enfim, um punhado de episódios muito mais significativos do que a adesão de Nilo Coelho ao PSDB. O fato de Sérgio Motta ter usado sua indignação de forma tão, digamos, seletiva deve ter explicações que não estão ao alcance dos mortais comuns.
Que o quadro político-partidário é a mais perfeita esculhambação, não há a menor dúvida.
Pena que o ministro não convença ao pretender-se a freirinha casualmente vista nesse bordel.

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