São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Relator e Luís Eduardo travam "batalha"

DANIEL BRAMATTI

DANIEL BRAMATTI; RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Carlos Apolinário diz que líder do governo 'não tem moral', ataca seu pai e é chamado de 'corrupto' por ACM

A votação do projeto de lei eleitoral foi marcada por uma batalha entre o relator, deputado Carlos Apolinário (PMDB-SP), e o líder do governo na Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA).
Ontem pela manhã, Apolinário foi ao microfone e relacionou Luís Eduardo a dois escândalos políticos: o da pasta rosa (lista de parlamentares que receberam dinheiro do Banco Econômico) e o da compra de votos para a reeleição.
"Um homem que esteve na relação da pasta rosa não tem moral para atingir a minha dignidade. Um homem que usava o cargo de presidente (da Câmara) para marcar audiência para o Ronivon Santiago não tem o direito de falar contra a honra de ninguém", disse.
Ronivon renunciou ao cargo de deputado após admitir, em gravação revelada pela Folha, que recebeu dinheiro para aprovar a reeleição. Luís Eduardo, porém, marcou audiência para outro envolvido: o ex-deputado João Maia (AC).
No contra-ataque, o líder do governo acusou Apolinário de ter pedido cargos em troca de uma lei eleitoral favorável ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
A tensão aumentou quando o relator citou indiretamente o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), pai de Luís Eduardo.
"O meu pai nunca foi pedir dinheiro para o Proer (programa de ajuda a bancos) para salvar o Nacional (sic)", disse Apolinário -na verdade, queria se referir ao Econômico (atual Excel). "Queria o deputado ter um pai como tenho. Nem sequer sei se conhece o pai", rebateu Luís Eduardo.
As provocações acabaram em tumulto. Luís Eduardo chegou a se preparar para um confronto físico. Retirou da mão uma tala que usa desde que quebrou um dedo.
No Senado, ACM atacou: "Ele é havido como pessoa que procura cargos no governo para roubar. E, logo que foi designado para ser relator de matéria tão importante -numa hora infeliz, porque não se coloca corrupto nesses lugares-, quis chantagear o governo".
"Hoje, esse chantagista é endeusado por alguns radicais da oposição" disse. "Ladrão tem que se haver é com a polícia ou com a Justiça, no dia em que a Justiça realmente colocar ladrões na cadeia." Para o senador, Apolinário "é desonesto e corrupto. Uma figura execrável da vida pública".
O confronto foi a continuação de uma briga iniciada na véspera, que aparentemente havia terminado quando Luís Eduardo mencionou a existência de uma carta do ministro Sérgio Motta (Comunicações).
Tudo começou quando Apolinário se irritou com a articulação dos governistas contra o financiamento público a partir de 2002. No microfone, disse que havia atendido pedido do governo (proibição de imagens externas nas inserções de TV) em troca da manutenção do financiamento público em 2002.
"Na minha frente, o líder do governo telefonou para o Fernando Henrique Cardoso e disse que não havia restrições", discursou.
Luís Eduardo disse que descumpriu o acordo porque Apolinário, "de forma sorrateira", enganou o governo ao multiplicar por dez as verbas do Fundo Partidário em 98. "O artifício do fundo não será suficiente para eu acreditar nas razões e na carta do ministro."
Há pouco mais de um mês, Apolinário pediu a Motta que desmentisse notas publicadas pela Folha e pela revista "Veja" sobre rumores de que teria pedido vantagens em troca de um relatório favorável. Em carta ao relator, Motta disse que nunca havia feito declarações "públicas" que embasassem os rumores. Irritado com a resposta dúbia, Apolinário rasgou a carta.

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