São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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FMI elogia câmbio flexível

CELSO PINTO

"Uma das coisas mais marcantes no Brasil é sua inteligente flexibilidade para adaptar o câmbio à situação econômica", observou ontem o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Michel Camdessus, numa entrevista à imprensa. "A rigidez no câmbio pode custar caro", disse, lembrando a crise que atingiu a Tailândia.
Camdessus respondeu a duas perguntas sobre o Brasil com um tom positivo. "É verdade que o déficit em conta corrente é alto, embora não desproporcional, porque metade está sendo financiado por investimentos diretos", disse. Ele saudou o fato de o governo estar "trabalhando pacientemente" para ajustar a área fiscal e fez os elogios esperados à privatização.
"Importante é que se está operando de forma a reduzir os riscos com perseverança", afirmou. "Confio nos brasileiros."
A mensagem é clara: o Brasil deve continuar acelerando o câmbio "como nos últimos meses" e reforçar o ajuste fiscal. Não é diferente do diagnóstico de Brasília, só que o FMI dizer isso em voz alta irrita profundamente o governo.
Em mais de uma semana de debates, conferências, discursos e seminários, é justo dizer que a preocupação com a possibilidade de contágio da crise asiática no Brasil foi um tema nesta reunião do Fundo e do Banco Mundial em Hong Kong. Mas também é justo dizer que a mensagem geral é que o pior da crise passou, e, com isso, ficou reduzido o risco de contágio.
A boa notícia é que não se falou muito na América Latina. "Os povos felizes não têm história", citou Camdessus, lembrando que foi a primeira vez, em 11 anos, que não teve que mencionar os latino-americanos em seu discurso. Quando se falou, no FMI e no Bird, os principais elogios foram para a recuperação mexicana, não para os esforços pacientes do Brasil.
Três questões ligadas à crise asiática dominaram este encontro: como preveni-la, como manejá-la e como evitar o contágio?
O FMI fez um enorme esforço para provar que havia advertido, há mais de um ano, a Tailândia. Só que o fez de forma discreta, caso contrário poderia ter sido acusado de ter precipitado a crise (ou de ferir sensibilidades, como acontece com o Brasil). Como sair dessa cilada?
Uma idéia que o Fundo tentou levantar é a de que associações regionais de países criem sistemas claros e diretos de alarme sobre problemas, a exemplo do que o Grupo dos Sete, que reúne os países mais ricos, já faz. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, vê com simpatia a idéia. A primeira experiência concreta pode ser com a Ásia, com a ajuda do Fundo.
O FMI fez enorme esforço em Hong Kong para provar que fez o suficiente pela Tailândia e que deve continuar a ser o único organismo a lidar com crises desse tipo. A idéia japonesa, apoiada pelos países asiáticos, de criar um fundo regional de US$ 100 bilhões para ajudar países que entrem em crise sofreu um enorme bombardeio do FMI, dos Estados Unidos e dos principais países ricos.
O principal argumento do Fundo, como disse Camdessus, é que só ele tem credibilidade para impor condicionalidades aos países em crise. Mesmo que um órgão regional imponha condicionalidades, elas tendem a ser mais fracas. E aí, disse, valerá a "lei de Gresham", que diz que a moeda ruim expulsa a boa: só valerá a condicionalidade mais branda.
O risco é que, sabendo que existe muito dinheiro disponível para ajuda, os especuladores se sintam tranquilos para forçar crises. E como lidar com os especuladores? Houve alguma discussão sobre como impor perdas aos especuladores quando o FMI entra com um programa de ajuda, mas é um ponto complicado. A melhor saída para os governos, recomendou Camdessus, não é colocar os especuladores na ilegalidade, o que apenas faria aparecer um mercado paralelo, mas "competir por excelência nas políticas econômicas".
Esta foi também a principal mensagem para países sujeitos ao risco de contágio: manter políticas saudáveis, fortalecer o sistema financeiro e manter flexibilidade no câmbio. Parece pouco como resposta e é pouco, o que diz muito sobre os riscos e as dificuldades de operar num mercado globalizado.
O tema da liberalização do fluxo de capitais entrou na agenda, por menos que agrade aos brasileiros, mas ainda gera muitas perguntas e é de longo prazo.
Outro tema que ganhou status nas duas instituições é o combate à corrupção mas, como disse o presidente do Bird, James Wolfensohn, é uma luta complicada. Ele citou o que ouviu de um ministro latino-americano neste encontro: "Corrupção e inflação vão existir sempre; o que nós pensamos é em mantê-las em um dígito".

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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