São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Qualidade total nas exportações

LUÍS NASSIF

O lançamento do programa de estímulo à exportação na fruticultura tem dois significados que vão além do setor.
O primeiro, de ser o ponto de partida para uma ação mais efetiva do governo no campo das exportações não convencionais e das pequenas e médias empresas. O programa é coordenado diretamente pela Casa Civil da Presidência da República e visa englobar todos os órgãos de governo e da iniciativa privada envolvidos no processo.
O segundo, por significar a adoção, pelo próprio Palácio do Planalto, de modernas formas gerenciais na administração de programas de governo -velha bandeira da coluna.
Até tempo atrás, o valor básico na administração pública era o conhecimento macroeconômico ou a erudição, em suas diversas formas. Herança dos padrões culturais do Império, havia por hábito trazer acadêmicos eruditos para postos-chave da administração pública, onde os valores exigidos eram de outra natureza: conhecimento gerencial, capacidade operacional etc.
Essa concepção começou a ser revista nos últimos tempos e a gerência passou a emergir como valor maior, à medida que aumentava o abismo entre teoria e prática nas ações públicas.
No início do governo FHC, a Casa Civil ensaiou os primeiros passos de gerência de processos, juntando diversos ministérios e setores envolvidos em determinados programas e tentando racionalizar ações conjuntas. Faltavam ainda modernos instrumentos gerenciais que tornassem mais efetiva essa ação.
TQC na exportação
Na preparação desse programa de exportações, a Casa Civil decidiu convocar o "papa" da qualidade total no Brasil -professor Vicente Falconi-, homem que ajudou a disseminar os conceitos japoneses da qualidade total, introduzido no Brasil a partir da Usiminas, na década passada.
Por meio do TQC, empresas brasileiras -como a Brahma, Sadia, Brasmotor- conseguiram competitividade internacional. Aplicado a uma escola secundária estadual de Belo Horizonte, esse método tem ajudado a revolucionar a rede pública mineira. E está sendo utilizado intensivamente em alguns governos estaduais -como o do Rio Grande do Sul- e em grandes estatais brasileiras -como a Petrobrás e a Cesp.
No mês passado, o professor Falconi manteve as primeiras reuniões com o grupo incumbido de montar o programa.
Primeiro, foram definidas as previsões de exportação adicional, para um período de quatro a cinco anos. Para implementar o programa, o professor Falconi sugeriu um dos instrumentos do TQC, que é a metodologia do gerenciamento pelas diretrizes.
A partir de metas maiores, foram definidas diretrizes menores, entendidas como ações voltadas para programas específicos. Cada diretriz desdobra-se em dez subdiretrizes, cada qual com metas, ações, responsáveis e prazos.
O próximo passo será definir os setores com potencial exportador, a partir de estudos já desenvolvidos pelo Programa Novos Pólos de Exportação, do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo.
Como explica Frederico Álvares, responsável pelo projeto, ele será altamente gerenciável, porque cobra metas e tem responsáveis em cada área. Se estiver saindo do rumo, será facilmente identificável.
É o segundo programa de governo a seguir uma metodologia moderna de acompanhamento de projetos. O primeiro foi o Brasil em Ação, que se valeu da metodologia empregada pela Petrobrás no início dos anos 80, no programa de capacitação de seus fornecedores para a tecnologia de prospecção em águas profundas.
O ministro-chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, faz questão de salientar que até agora está-se apenas na fase de projeto. Há muito a caminhar, antes de se transformar em programa efetivo. Mas demonstra que os novos valores da gerência passaram a conquistar corações e mentes no setor público.
Quem indicou Falconi para assessorar o projeto -sem custos para o Estado- foi o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente, atendendo a uma sugestão do colunista.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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