São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Desvalorização seria de 46% para voltar ao pré-Real

DEMIAN FIOCCA

A taxa de câmbio real calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor é a que melhor identifica a variação entre os preços dos itens importados (ou exportáveis) e o custo dos bens e serviços que não são afetados pelo câmbio. É por meio dessa variação de preços relativos que a política cambial afeta a balança comercial. Nesse sentido há farta bibliografia, que vai, pelos menos, de Keynes a contemporâneos como Fischer e Dornbusch.
No gráfico dos últimos dez anos, verificam-se três patamares razoavelmente estáveis de taxa de câmbio real: entre meados de 1987 e início de 1989, de 1992 à véspera do Plano Real e de janeiro de 1995 ao presente. A magnitude dessas mudanças impressiona.
Nos seis meses após o Real, o índice caiu de 100 para 68,8. Essa valorização de 31,2% significa que um eventual retorno à situação anterior exigiria uma desvalorização de 45,6% (de 100 para 69, a queda é de 31%. Mas, partindo de 69, é preciso subir 45% para chegar a 100).
Isso não significa que uma eventual crise produzida pelo déficit externo forçaria o país a realizar, necessariamente, uma desvalorização dessa ordem. Nada determina que a taxa de câmbio do período pré-Plano Real seja a taxa eterna de equilíbrio.
Importações de bens de capital e mudanças gerenciais devem ter contribuído para elevar a produtividade de parte das empresas nacionais. O país também já não sofre algumas ineficiências e distorções da superinflação. A abundância de recursos no mercado financeiro internacional favorece a manutenção de um equilíbrio mais deficitário.
Ainda assim, os dados acima são uma referência importante e servem de alerta. Afinal, mesmo que tenham ocorrido progressos na esfera produtiva, três anos de crescimento baixo é pouco para que a economia tenha realizado transformações de grande vulto.
A valorização parece excessiva para ser mantida indefinidamente, ainda que existam motivos para supor que uma futura correção do câmbio possa se estabilizar com desvalorização inferior a esses 46%.

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