São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
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Stones são antena permanente da cultura pop

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas músicas do novo álbum dos Rolling Stones já tocam em rádios paulistanas. O ouvinte desavisado vai jurar que são novos hits do INXS. É preciso prestar atenção para discriminar a antes tão peculiar voz de Mick Jagger. Além da nefasta semelhança, as músicas não são lá essas coisas.
Essa comparação atesta uma coisa: os Stones já duram tanto tempo, e foram tão bons, que são tão imitados a ponto de serem confundidos com seus simulacros. Coisas da cultura de referências deste final de século.
E os Rolling Stones são um capítulo de peso neste século. Elvis, Beatles, Dylan e outros papas do pop podem ter sido seminais, inovadores. Mas os Stones foram o maior espelho dessa música barulhenta chamada rock and roll.
Mais do que fontes emissoras, eles assumiram sempre o papel de antenas ininterruptas da cultura pop. Como moto-perpétuo, eles absorvem essa cultura e dela recheiam seus discos -alguns maravilhosos, outros muito bons e nenhum desprezível.
Ver fotos da banda e ouvir suas músicas em ordem cronológica é acompanhar as mudanças de cabelos, roupas e atitudes de boa parcela da juventude ocidental.
Os Stones passaram por todo o purgatório pop: acusados de imitadores dos Beatles, presos por uso de drogas, marcados pela morte deprimente de um de seus integrantes (Brian Jones), vítimas do fisco inglês, alvos do movimento punk, minados pelas brigas internas... Diga uma coisa ruim, qualquer coisa, que eles tiram de letra.
E continuam sobrevivendo. Por dois motivos. Primeiro, porque Mick Jagger é um competente homem de negócios, que sabe driblar todos os obstáculos e manter a banda no topo das paradas. Segundo, porque Keith Richards é a própria encarnação do rock and roll.
Na primeira grande turnê dos Stones pelos EUA, nos anos 60, um repórter perguntou: "Por que vocês fazem sucesso? Por que isso não acontece com os grandes mestres do blues, que são autores das músicas que vocês regravam?".
Richards não hesitou: "É que os grandes mestres do blues são pretos, velhos e feios. Os Stones são brancos, jovens e bonitos!". Richards não tem um pingo de racismo. Ele só teve o faro para dar a resposta mais provocadora possível. Rock e rebeldia, só isso.
Jagger pode ser o playboy, o roqueiro das colunas sociais, o líder do grupo na hora de falar com a imprensa. Mas a química da banda, a essência que faz um grupo de senhores cinquentões e milionários cair na estrada, está toda na alma desse guitarrista de rosto sulcado por décadas de rock e drogas.
Os Stones merecem o título de maior banda de rock da história. O show da última turnê, que lotou estádios no Brasil, provou isso. Eles podem até lançar músicas iguais às do INXS. Os fãs sempre terão "Satisfaction".

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