São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RESPEITO À DIFERENÇA

É positivo que o país dê passos no sentido do respeito a direitos individuais e de minorias. Um exemplo é a autorização do Conselho Federal de Medicina (CFM) para cirurgias em pessoas diagnosticadas como transexuais. Reconhecer a existência de cidadãos em condições diferentes da maioria e adequar as leis de modo a permitir uma melhor convivência é um sinal de avanço democrático. Vão nessa direção a decisão do CFM, o projeto que prevê atendimento público a abortos legais e o da união civil de homossexuais.
Essas medidas apontam para um reconhecimento de direitos de cidadania e para a solução de problemas humanitários. A campanha contra juízes que autorizam abortos em casos não previstos na lei -como os de malformação fatal de fetos- reduz o espaço da tentativa de solucionar, de modo laico e livre, discordâncias profundas e de consciência sobre os direitos individuais.
Para muitos, temas como transexualismo, direitos de homossexuais ou aborto colocam em questão uma suposta ordem natural ou sagrada das coisas, ordem que deveria ser seguida pela lei dos homens.
No entanto, homens e mulheres vivem em sociedade, o que implica diferenças culturais, econômicas, sociais e psicológicas; de resto, há diferenças genéticas. E o mundo real da diversidade social e individual não se submete à natureza. O drama de viver num corpo diferente de sua identidade sexual ou de enfrentar o parto de uma criança que morrerá em poucas horas faz parte desse mundo real, não de uma ordem natural.
Seria recomendável considerar esses problemas de uma forma generosa, humanitária e democrática; lembrar que algumas dessas questões, como a do aborto, dificilmente podem ser encaradas de maneira "científica", ficando mais próximas das questões de consciência. Nesses casos, o melhor seria discutir sem precipitação -pois a polêmica é grande-, mas de modo firme, uma política de respeito às diferenças.

Texto Anterior: ESCÁRNIO NO CONGRESSO
Próximo Texto: O "warm-up" para 1998
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.