São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998 |
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Doença responde por 2,18% do total de mortes
AURELIANO BIANCARELLI
Em agosto deste ano, 80 homens morreram de Aids em São Paulo, o menor número desde 94, quando as mortes atingiram o pico. "O grande momento de impacto nas mortes ocorreu quando o Estado passou a distribuir o coquetel", afirma o médico Marcos Drumond Júnior, da equipe técnica do Pro-Aim, programa da prefeitura sobre mortalidade. No Brasil todo, a combinação de drogas chegou à rede pública em janeiro do ano de 1997. Hoje, estima-se que 9.000 pacientes na cidade de São Paulo, 20 mil no Estado e 45 mil no país estejam recebendo os medicamentos. "Os efeitos do uso do coquetel são percebidos em todas as frentes", afirma Artur Kalichman, coordenador do Programa Estadual de Aids. O número de internações no Estado caiu 30%. Também no Hospital Emílio Ribas, onde chegam os casos mais graves, há redução nas internações. Ontem, havia 85 doentes internados, quando a média do ano passado ficava entre 100 e 110. A queda na permanência média é significativa, diz Guido Levy, diretor do Emílio Ribas. Entre 96 e 98, o número de dias por internação caiu de 38 para 20. "Os pacientes chegam em estado menos grave, o que permite tratamentos mais rápidos", diz o diretor. As vantagens do coquetel, no entanto, podem "sair pela culatra" se o tratamento não for seguido corretamente. "Corremos o risco de caminhar para uma catástrofe virológica", afirma Ricardo Diaz, infectologista da Universidade Federal de São Paulo. O risco atinge todos os países que estão usando o coquetel em grande escala. Segundo Diaz, pesquisas em São Paulo entre pacientes que nunca tomaram o remédio estão encontrando 12% deles resistentes a um dos medicamentos para Aids. Significa que foram infectados por pessoas que tinham criado resistência a um ou vários remédios, provavelmente por abandono do tratamento. Entender as razões do abandono é a proposta de uma pesquisa qualitativa que vem sendo feita pela Secretaria de Estado da Saúde. Os motivos alegados pelos que não seguem o tratamento estão menos nos efeitos colaterais e mais no estilo de vida e na descrença ao remédio, diz Maria Inês Baptistela Nemes, uma das coordenadoras do estudo. Os menos aderentes eram os que mais valorizavam o lado psicológico, com frases do tipo "minha cabeça é que manda". Ou crenças como "tomo o remédio e fico meio abobado". Muitos relataram dificuldades no horário. "Se não tomei à tarde, não tomo à noite para acertar o horário", disse um paciente. Texto Anterior: Justiça e excessos Próximo Texto: Defeitos em carro irritam proprietário Índice |
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