São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998
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Mercado vive novo dia de tensão; Bolsa de São Paulo despenca 8,8%

VANESSA ADACHI
RICARDO GRINBAUM

VANESSA ADACHI; RICARDO GRINBAUM
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de um mês de trégua, o mercado financeiro voltou a viver um dia de grande tensão. A derrota do governo na votação do aumento da contribuição dos servidores jogou um jato de água fria no clima de confiança dos investidores.
Desde o início da semana, a Bolsa de São Paulo registrava pequenas quedas, mas ontem o preço das ações desabou 8,78%. Foi o pior resultado em dois meses. O movimento de venda foi muito forte: foram negociados R$ 729 milhões, contra cerca de R$ 400 milhões da média diária nas últimas semanas.
O nervosismo bateu em outros mercados. O C-Bond, título da dívida externa mais negociado, caiu 5,08%, e atingiu o valor mais baixo desde 7 de outubro.
No mercado futuro, a projeção de juros para dezembro subiu de 30,72% para 31,60% ao ano. A projeção de desvalorização do real para dezembro subiu de 0,94% para 1,10%.
Influência em Nova York
O receio de que a derrota do governo pudesse inviabilizar o pacote de ajuda do FMI influenciou os resultados na Bolsa de Nova York. Ações de bancos norte-americanos com fortes negócios no Brasil puxaram a queda de 2,04% do índice Dow Jones. O índice Merval, da Argentina, caiu 6,55%.
As quedas só não foram maiores porque as más notícias brasileiras foram parcialmente compensadas pela decisão de onze países europeus em reduzir os juros. A medida ajuda a afastar o risco de uma recessão mundial.
No Brasil, nem a queda dos juros na Europa conseguiu reverter o pessimismo. Os investidores davam como certa a vitória do governo, que não era considerada uma das provas mais difíceis para o ajuste fiscal. "Ficou a sensação de que o Brasil pode, mais uma vez, deixar de fazer o ajuste", diz Reinaldo Le Grazie, diretor de mercados do banco inglês Lloyds.
A confiança na aprovação do pacote fiscal estava na base da alta de 22,4% no preço das ações ocorrida em novembro. Agora, a dúvida no mercado financeiro é se a aprovação de outras medidas, antes dada como certa, será confirmada.
"O pior efeito da derrota do governo é moral", diz Luis Stuhlberger, diretor da corretora Hedging-Griffo. "Fica mais difícil convencer o resto da sociedade a aceitar medidas, como aumentos de impostos, se uma categoria consegue se livrar dos custos do ajuste."
Desvalorização do real
O nervosismo nas Bolsas facilitou a disseminação de boatos. Espalhou-se o rumor de que o real seria desvalorizado para cumprir meta de aumento de exportações acertada com o FMI. Outro boato, da demissão do presidente do BC, Gustavo Franco, foi desmentido em nota oficial.
Outras notícias consideradas ruins pelo mercado tiveram seu efeito ampliado pelo ambiente negativo. O cancelamento da privatização da alagoana Ceal ajudou a derrubar o preço das ações de companhias elétricas que estão na fila para serem privatizadas.
A queda também foi acentuada porque os preços das ações haviam subido muito. "Houve excesso de otimismo no mês passado que pode estar sendo corrigido agora", diz Jorge Simino Júnior, da UAM (Unibanco Asset Management).
Se novembro foi um mês de recuperação, há muitas dúvidas sobre dezembro. Já se sabe que deverá haver uma saída forte de dólares. Cerca de US$ 1,3 bilhão em títulos emitidos por empresas brasileiras no exterior vence esse mês. "A rolagem das dívidas será mínima", diz Felipe Pontual, do banco BBA, "a maior parte das empresas terá de quitar as dívidas."

LEIA MAIS sobre o mercado financeiro na pág. 2-4 e 2-8

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