São Paulo, sexta-feira, 4 de dezembro de 1998
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Trabalho voluntário em alta

MILÚ VILLELA

O voluntariado, uma atividade tão esquecida nas últimas décadas, tem ressurgido com força total neste último ano. Atualmente, termos como promoção social, filantropia empresarial, cooperativismo e solidariedade têm aparecido constantemente na mídia impressa e eletrônica.
Esse fato pode ser entendido como uma manifestação da sociedade civil, até então apática e desmotivada, que gera todo um estado de mobilização e envolvimento crescente da população na resolução dos problemas sociais.
Essa mobilização social é o "tom" pretendido pelas ações dos grupos que compõem o terceiro setor. Pertencem ao terceiro setor entidades sem fins lucrativos, que cuidam da educação, da saúde, da pesquisa, da cultura, da proteção ao meio ambiente e das demais áreas ligadas à comunidade.
No Brasil, o reconhecimento da importância do terceiro setor já se verifica nos bancos de cursos universitários. A Fundação Getúlio Vargas possui uma cadeira específica no assunto, que desperta nos jovens o interesse em desenvolver trabalhos voltados para a comunidade. Outras entidades de ensino, como a Faculdade de Economia e Administração da USP (Universidade de São Paulo) e a PUC (Pontifícia Universidade Católica) paulista, também instalam núcleos de estudos do terceiro setor.
Assim, criam-se espaços para atividades não-remuneradas que buscam ser um elo de ligação entre aqueles que desejam doar tempo, trabalho e talento e aqueles que precisam de ajuda.
O trabalho voluntário não é somente uma "doação de tempo livre", mas uma troca produtiva. Doando tempo e talento específico, exerce-se um serviço de cunho social e comunitário. É um sentimento de solidariedade sempre latente no povo, mas que não encontra a devida repercussão institucional. E a gratificação recebida é proporcionalmente maior do que aquilo que se dá.
O voluntariado liga a pessoa à sua comunidade, cria situações de companheirismo e sociabilização, promove o crescimento pessoal e desenvolve em cada um a responsabilidade pelo bem-estar social.
Para que o trabalho voluntário se expanda, é necessário seu encorajamento. Há que identificar e formalizar o que já existe, incentivar a iniciativa pessoal com aprovação social, dar treinamento específico para desenvolver o sentido de realização e valorização.
É preciso aproveitar de cada voluntário o potencial daquilo com que ele já é capaz de contribuir e gosta de fazer, estabelecendo normas de conduta para esse tipo de trabalho, para que ele se sinta parte da entidade. E deixar claro o que e quanto se espera dele, dando, ao mesmo tempo, as melhores condições para a realização de suas tarefas.
Há um ano e meio foi criado o Centro de Voluntariado de São Paulo, com a finalidade de incentivar e valorizar o trabalho voluntário. Seus objetivos incluem a promoção da cultura e do reconhecimento do trabalho em comunidade, a organização de oferta e demanda, o estímulo ao trabalho em diversas áreas, o treinamento e a capacitação de voluntários e a promoção do intercâmbio entre instituições e pessoas.
Assim como o centro em São Paulo, outros dez instalados em grandes capitais do país promovem essa atividade solidária e cidadã, fornecendo programas de voluntariado especializado para empresas, jovens e outros grupos adequados à realidade de cada região.
Tratado dessa forma, o voluntariado não concorre com o setor público nem reduz postos de trabalho. Ocupa apenas espaços vazios em entidades que não teriam como pagar por certos serviços. De modo geral, supre a falta de meios de financiamento para atividades de benefício coletivo, sejam de natureza cultural, educativa, assistencial ou de ajuda em serviços comunitários.
Em fevereiro deste ano, foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a lei 9.608, regulamentando todas as atividades não-remuneradas prestadas por pessoas físicas a entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos. Essa importante lei legitima e valoriza o trabalho voluntário.
Amanhã comemoramos o Dia Internacional do Voluntário. Aproveitamos a data para reforçar nossa crença no voluntariado como opção consciente no exercício pleno da cidadania.

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