Índice geral Acontece
Acontece
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

MAM expõe coleção que salvou museu

Depois de perder seu acervo para a USP nos anos 60, a instituição se reergueu com uma doação de 81 trabalhos

Entre as obras doadas por Carlo Tamagni estão peças de Tarsila do Amaral, Volpi, Lívio Abramo e Aldo Bonadei

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Quando decidiu doar sua coleção para a Universidade de São Paulo em 1963, Ciccillo Matarazzo esvaziou o Museu de Arte Moderna, até então detentor do acervo. Veio depois um limbo de cinco anos em que o MAM ficou sem obras e sem uma sede.

Conselheiros pressionaram sem sucesso para que fosse anulada a doação de Matarazzo à USP e chegaram a pedir ajuda a Nelson Rockefeller, do MoMA, em Nova York, para salvar o museu.

Foi só no fim da década que o MAM se reergueu, quando o conselheiro Carlo Tamagni entregou as 81 peças de sua coleção ao museu ainda sem espaço definitivo.

Agora, esse acervo, que tem obras de Lívio Abramo, José Pancetti, Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, entre outros, é exibido junto de documentos, cartas e atas de reunião que narram o desmanche do MAM e sua retomada.

Também estão expostas obras contemporâneas, que entraram depois para o acervo, como a performance de Paulo Bruscky em que um funcionário da casa trabalha o dia todo na sala expositiva.

"Foi uma operação de reposição, reexibir uma coleção importante, que refundou o MAM", diz Fernando Oliva, um dos curadores da mostra. "É também criar uma situação de tensão ou fricção entre essas obras, e não criar uma hierarquia entre trabalhos e arquivo da instituição."

No caso, o arquivo vale como âncora da mostra, já que até hoje não ficou claro o motivo exato que levou Matarazzo a se desfazer do acervo.

"É esclarecedor que ele tenha tornado a Bienal uma fundação no ano anterior à doação", diz Felipe Chaimovich, curador do MAM. "Ele perdeu interesse na inércia burocrática do museu e quis focar na Bienal, que ele via como evento diplomático."

Mas é outra a diplomacia que se estabelece agora entre obras antigas (como uma paisagem pré-modernista de Tarsila do Amaral ou um retrato de Volpi que em nada lembra suas bandeirinhas) e performances como as de Bruscky ou Laura Lima, que põe um palhaço em pleno museu.

Trabalhos contemporâneos se espalham pelo MAM como pontos de tensão contrapostos às peças dos anos 30 e 40, expostas em enormes painéis giratórios no espaço.

Com isso, a cronologia se perde. Visitantes vão alterando a configuração da mostra ao girar essas instalações, destruindo e criando vínculos novos entre as obras de forma um tanto aleatória.

É uma estratégia que também reflete a coleção de Tamagni, que juntou suas obras por afinidades com artistas, entre mais conservadores, como Bonadei e Rebolo, e vanguardistas, como Abramo.

-

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.