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CINEMA
Ação encarna confusão entre máquina e humano
CLAUDIO SZYNKIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tudo converge para uma
idéia em "Ameaça Invisível":
evolução. Primeiro, a evolução de
nossa geopolítica. Por tabela, da
indústria militar: num futuro próximo, um projeto é instalado no
Exército americano visando sucesso contra o terrorismo. Três
craques são escolhidos para pilotar aviões capazes de rasgar fronteiras e detonar, sem seqüelas urbanas, um prédio que sedia um
congresso de malfeitores na Ásia,
por exemplo. Problema: no grupo
ingressa um quarto componente,
EDI, avião inteligente que se revelando dono de vontades e sentimentos, o que desnorteará as forças armadas e causará tragédias
por aí. Como controlar essa criatura será o ponto.
Quase toda a ação do filme
ocorre no céu, cenário que a parafernália digital do diretor Rob Cohen reinventa com uma frieza
plastificada sedutora. Nele, nosso
olhar é conduzido de um jeito que
nos deixa como que flutuando,
suspensos entre nuvens e vulneráveis em uma tempestade de
destroços, por exemplo.
Outra proposta de Cohen é que
com esses aviões velozes viajemos
mundo afora como se milhares de
quilômetros fossem alguns metros, fazendo-nos sentir geografias inteiras em metamorfose e o
tempo congelado, quando não
dissolvido. Estamos imersos nesse ambiente celeste paralelo, participando de uma lógica só dele.
Sem noção exata do quanto passou entre uma missão e outra,
nem de onde estamos, ora sobre o
Alasca, ora em florestas coreanas,
perseguindo ou fugindo de EDI.
Aqui se configura outro aspecto
de evolução, este no próprio cinema: o cinema de ação evolui para
essa indeterminação narrativa.
Para um estado de sonho, quase
de fantasia, também nutrido por
batalhas captadas como nervosas
danças aéreas de fuselagens que
cospem luzes. Auxiliada por alta
tecnologia gráfica, o que faz a câmera, sempre robótica, de Cohen
-esculpindo ângulos impossíveis- é manipular a platéia em
uma experiência sensorial. Os
sentidos são explorados e convocados a um misto de contemplação e emoção intensa.
A evolução militar se entrelaça
com a do cinema de ação: EDI,
uma engenharia artificial, evoluirá para o máximo humano; os
procedimentos visuais de "Ameaça" -em tudo artificiais- objetivam o que há de mais humano:
sensações. Assim, o filme não só
trata (em EDI) dessa confusão entre humano e máquina, ele a encarna. Ele é a confusão. Há exuberância nisso, mas há também um
rastro de incrível fugacidade, e
morbidez, nesse registro, superevoluído, supereletrizante, do filme de Cohen. Nele, cada imagem
nasce e se dissipa rapidamente, e a
tendência é superar seus métodos
a cada estação. Para onde evoluirão nossos sentidos?
A ironia é o roteiro concluir que,
sob o risco da insânia, cabe ao
corpo militar dos EUA reavaliar a
sede de evolução, ainda que a cultura bélica -elevada ao espetáculo- faça parte de sua essência.
Ameaça Invisível
Stealth
Direção: Rob Cohen
Produção: EUA, 2005
Com: Jamie Foxx, Josh Lucas
Quando: em cartaz nos cines Metrô
Tatuapé, SP Market e circuito
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