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MUSICAL CRÍTICA
"Cazas de Cazuza" é espetáculo de cor nacional
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
A influência de "Rent" é flagrante, até pelo envolvimento dos
diretores de "Cazas de Cazuza"
com a adaptação do musical americano, ano passado. Dos ótimos
figurinos, coloridos, de rua, à ambiência boêmia e aos personagens, jovens perdidos na babel urbana, quase tudo faz lembrar
"Rent", não faltando citações.
Mas, estranhamente, "Cazas de
Cazuza" é todo ele Cazuza, é inteiramente emanado de suas letras e
poesias. O diretor e autor Rodrigo
Pitta conseguiu uma transposição
harmoniosa do universo das canções para o palco. Os personagens, do jovem machão drogado à
sensual estrela nascente, do poeta
arredio à jornalista durona, são
todos do entorno urbano, Baixo
Leblon, do compositor, que está
presente em todos, como se fossem diferentes perfis seus.
"Cazas" é também -o que é até
espantoso numa encenação tão ligada ao modelo da Broadway-
um espetáculo de cor nacional, de
um Brasil oprimido de cidade
grande. As "Cazas" são três apartamentos em que se distribuem os
personagens centrais, num mesmo prédio, no Rio, cada apartamento com conflitos internos
bem delineados, que se expandem de um para outro.
Impressiona a fusão alcançada
entre as letras e a trama, mas, sobretudo, é de fazer inveja a elevada qualidade dos números musicais, com uma direção profissional, precisa, o que é incomum no
teatro musical recente, de Daniel
Ribeiro. São atores-cantores que
marcam tanto nos solos, sobretudo Jay Vaquer (Justo), Débora
Reis (Bete Balanço) e Lulo Scrobak (Deco), como em coro.
Problemas, contudo, podem ser
identificados em diversos planos.
O segundo ato não se desenvolve
com a justeza do primeiro: há cenas mal resolvidas, algumas desnecessárias, e o ato consegue ser o
mais longo -ainda construindo
a situação, quando já deveria partir para a sua solução.
Outro equívoco é a atuação de
Fernando Prata, como o poeta,
num antinaturalismo afetado que
se choca com o gênero musical e
esconde sua voz -a que mais se
aproxima da voz imperfeita, até
ciciante, mas marcante, de Cazuza. Vale dizer que a ótima Vanessa Gerbelli, que faz Mia, mulher
do poeta, só não cresce mais em
cena por conta disso. O cenário
não passa de alguns praticáveis,
uns elementos decorativos e uma
plataforma para a banda, coberta
por um filó inexplicável.
De volta ao que "Cazas de Cazuza" tem de melhor, Jay Vaquer e
Débora Reis são intérpretes plenos de musical, com domínio tanto vocal como da atuação, e Lulo
Scrobak, em sua estréia profissional, insinuou um artista maior.
Quase todo o elenco, que tem
também destaques em Rosana
Pereira e Bukasa Kabenguele,
mostra talento e empolgação.
Alguns excessos dramáticos,
aqui e ali, podem ser creditados
ao impacto da estréia e à falta de
ritmo, o que teria sido resolvido
com uma pré-estréia.
Avaliação:
Espetáculo: Cazas de Cazuza
Diretor e autor: Rodrigo Pitta
Elenco: Marcelo Góes, Wagner Emmy,
Mariana Elisabetsky e outros
Quando: qui., às 21h30; sex. e sáb., às
22h; dom., às 20h
Onde: Tom Brasil (r. Olimpíadas, 66, Vila
Olímpia, tel. 820-2326)
Quanto: R$ 20 a R$ 40
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