São Paulo, #!L#Sábado, 05 de Fevereiro de 2000


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MUSICAL CRÍTICA
"Cazas de Cazuza" é espetáculo de cor nacional

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

A influência de "Rent" é flagrante, até pelo envolvimento dos diretores de "Cazas de Cazuza" com a adaptação do musical americano, ano passado. Dos ótimos figurinos, coloridos, de rua, à ambiência boêmia e aos personagens, jovens perdidos na babel urbana, quase tudo faz lembrar "Rent", não faltando citações.
Mas, estranhamente, "Cazas de Cazuza" é todo ele Cazuza, é inteiramente emanado de suas letras e poesias. O diretor e autor Rodrigo Pitta conseguiu uma transposição harmoniosa do universo das canções para o palco. Os personagens, do jovem machão drogado à sensual estrela nascente, do poeta arredio à jornalista durona, são todos do entorno urbano, Baixo Leblon, do compositor, que está presente em todos, como se fossem diferentes perfis seus.
"Cazas" é também -o que é até espantoso numa encenação tão ligada ao modelo da Broadway- um espetáculo de cor nacional, de um Brasil oprimido de cidade grande. As "Cazas" são três apartamentos em que se distribuem os personagens centrais, num mesmo prédio, no Rio, cada apartamento com conflitos internos bem delineados, que se expandem de um para outro.
Impressiona a fusão alcançada entre as letras e a trama, mas, sobretudo, é de fazer inveja a elevada qualidade dos números musicais, com uma direção profissional, precisa, o que é incomum no teatro musical recente, de Daniel Ribeiro. São atores-cantores que marcam tanto nos solos, sobretudo Jay Vaquer (Justo), Débora Reis (Bete Balanço) e Lulo Scrobak (Deco), como em coro.
Problemas, contudo, podem ser identificados em diversos planos. O segundo ato não se desenvolve com a justeza do primeiro: há cenas mal resolvidas, algumas desnecessárias, e o ato consegue ser o mais longo -ainda construindo a situação, quando já deveria partir para a sua solução.
Outro equívoco é a atuação de Fernando Prata, como o poeta, num antinaturalismo afetado que se choca com o gênero musical e esconde sua voz -a que mais se aproxima da voz imperfeita, até ciciante, mas marcante, de Cazuza. Vale dizer que a ótima Vanessa Gerbelli, que faz Mia, mulher do poeta, só não cresce mais em cena por conta disso. O cenário não passa de alguns praticáveis, uns elementos decorativos e uma plataforma para a banda, coberta por um filó inexplicável.
De volta ao que "Cazas de Cazuza" tem de melhor, Jay Vaquer e Débora Reis são intérpretes plenos de musical, com domínio tanto vocal como da atuação, e Lulo Scrobak, em sua estréia profissional, insinuou um artista maior. Quase todo o elenco, que tem também destaques em Rosana Pereira e Bukasa Kabenguele, mostra talento e empolgação.
Alguns excessos dramáticos, aqui e ali, podem ser creditados ao impacto da estréia e à falta de ritmo, o que teria sido resolvido com uma pré-estréia.


Avaliação:     




Espetáculo: Cazas de Cazuza Diretor e autor: Rodrigo Pitta Elenco: Marcelo Góes, Wagner Emmy, Mariana Elisabetsky e outros Quando: qui., às 21h30; sex. e sáb., às 22h; dom., às 20h Onde: Tom Brasil (r. Olimpíadas, 66, Vila Olímpia, tel. 820-2326) Quanto: R$ 20 a R$ 40



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