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"BLUE ROOM"
Peça está no Tuca
Espetáculo de
José Possi Neto
fica entre a dor
e o anestésico
Divulgação
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Cena do espetáculo "Blue Room", com direção de José Possi Neto, que está em cartaz no Tuca |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Blue Room" é um bom
teatro comercial: não há
demérito nisso. É despretensioso,
bem produzido e divertido. Despretensioso porque a adaptação
que o dramaturgista inglês David
Hare faz de "La Ronde", de
Schnitzler, não tenta reacender o
escândalo que o alemão produziu
em 1900.
A revelação da promiscuidade
não incomoda mais: a denúncia
passa a ser não do pecado mas do
tédio, da banalização do sexo, de
como as fantasias se comercializaram e podem ser vestidas por
qualquer um.
Talvez por isso, o que o texto
propõe é um jogo vertiginoso de
troca de papéis, para uma atriz
(prostituta, empregada, dona-de-casa, modelo teen, atriz famosa) e
um ator (taxista, garotão, político,
dramaturgo, fã) cada qual traindo
o outro com o "próximo", na quadrilha de que nos fala Drummond. A auto ironia prevalece, e o
desafio para o encenador é mais
de forma do que de conteúdo.
José Possi Neto exibe aqui a sua
competência de sempre enquanto
diretor de espetáculo. O cenário
minimalista de Jean Pierre Tortil,
quarto estilizado com um telão de
fundo mutante que faz variar a
"atmosfera" de cada contexto,
acompanha o camaleonismo exigido para os atores e os assessora
eficazmente com uma esteira que
introduz abajures e adereços como se fossem personagens entrando em cena.
Murilo Rosa cumpre com competência marcas difíceis, tem desenvoltura física, mas mantém
uma entonação um pouco estereotipada, o que a troca de personagens só salienta. Christiane
Torloni sabe melhor interiorizar
suas marcas, faz adolescentes
com muita delicadeza e ironia, e
poderia ter mais espaço para tornar o espetáculo mais profundo.
Mas a direção optou pela eficácia
no texto daquilo que o crítico
Charles Spencer chamou de "viagra teatral", o que é um pouco pejorativo para a platéia.
É como se a solidão urbana, tangenciada delicadamente pelas entrelinhas do texto, e a dimensão
pirandeliana das personagens,
que se transformam segundo o
olhar do outro, passassem prudentemente ao segundo plano,
cedendo a ribalta à beleza plástica
de pernas e peitorais.
Em nome da eficácia do "viagra
teatral", para satisfazer o voyeurismo de um suposto público de
televisão, "Blue Room" abre mão
de um aprofundamento dos temas, coisa que poderia fazer apenas assumindo um maior risco,
trocando marcas eficazes pelo incentivo à interiorização por parte
de Rosa, solicitando outros registros além do sensual a Christiane
Torloni.
O reparo que se pode fazer a
"Blue Room" não é o de ter optado pelo comercial, mas sim de ter
se limitado a isso, como se houvesse uma intransponível barreira ente um teatro de resultados e
um teatro de investigação.
Com um pouco menos de prudência essa artificial barreira entre os gêneros teria caído, e "Blue
Room" seria um marco na temporada.
Blue Room
Direção: José Possi Neto
Texto: David Hare
Com: Christiane Torloni e Murilo Rosa
Onde: Tuca (r. Monte Alegre, 1.024,
Perdizes, tel. 3670-8453)
Quanto: de R$ 20 a R$ 30
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