São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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Mais antigo restaurante da capital pode reabrir em breve; casas tradicionais estão fechando ou fugindo do centro

Carlino, 121, pendura as panelas em SP

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

O restaurante Carlino, o mais antigo de São Paulo, pendurou suas panelas após 121 anos de funcionamento. A expectativa dos proprietários é reabrir o restaurante em outro local em dois ou três meses. O fechamento aconteceu há duas semanas, quando o co-proprietário Antônio Carlos Marino, 57, serviu as duas últimas refeições: coelho a la lucchesi e cordeiro a cacciatora, ambos ensopados e dois dos itens mais tradicionais do centenário cardápio.
Agora, pelo menos por esses meses, quem segura o posto de restaurante mais antigo da cidade é a cantina Capuano, de 1907, que já funcionou no centro e está há 38 anos na rua Conselheiro Carrão, 416, no Bexiga.
E é bom ficar de olhos abertos. Nos últimos dois anos, diversos restaurantes tradicionais têm sido fechados, especialmente no centro e nos bairros da região central de São Paulo, como Bistrô, Paddock, Da Giovanni, Parreirinha e Balilla (veja texto nesta página).
"O Carlino não acabou", diz Marino, dono do local, com outros dois sócios, há 25 anos. "Já estou procurando um lugar para reabrir com o mesmo cardápio e a mesma cozinha. Estou visitando casas em Higienópolis, Pacaembu, Perdizes. Fui ver até um lugar em Moema." Segundo ele, os 12 funcionários não foram demitidos; estão em férias coletivas.
A razão do fechamento é a deterioração do centro nos últimos oito anos. "Desde que foi implantado o real, minha clientela caiu entre 60% e 70%. Os cinemas estão fechando e virando igrejas, estacionamentos e bingos, as grandes empresas foram embora", diz.
"Fomos tentando ficar, mas há muitas dificuldades para a clientela vir aqui à noite. Há falta de estrutura e a mudança de população fez aumentar os assaltos e a violência."
Para Marino, não havia mais lugar no centro para a cozinha italiana clássica do Carlino. "Fazíamos molhos e filés na hora, e o centro agora quer tudo mais rápido, comida fast food. Minha cozinha não cabe mais lá."

Êxodo
Aberto em 1881 na avenida São João, em frente ao Largo do Paissandu, o restaurante ganhou esse nome por causa do apelido do dono, Carlo Cecchini, vindo da Toscana. Em 1960, o restaurante se mudou para a av. Dr. Vieira de Carvalho, 154, onde funcionou até há duas semanas.
Na Vieira de Carvalho, pode-se constatar um êxodo de restaurantes. "A Casa Ricardo foi embora, o Almanara saiu, o Rubaiyat é que foi o mais esperto. Foi o primeiro a sair daqui, há uns seis anos." No mês passado, foi a vez da Gelateria Parmalat abandonar a avenida.
"O pessoal não vai mais ao centro à noite por causa da violência. E de dia há a concorrência dos "quilos'", diz Antônio Buonerba, 62, proprietário do Jardim de Napoli, que trocou o centro por Higienópolis em 1968. "É preocupante uma cidade gastronômica como São Paulo perder essas referências históricas."
Derivan de Souza, 47, dono do Bistrô, fechado no ano passado, também cita a concorrência dos restaurantes por quilo. "Além disso, muitas empresas saíram do centro e nosso clientes trabalhavam nelas."
Segundo a Associação de Bares e Restaurantes Diferenciados do Estado de São Paulo, existem 70 mil estabelecimentos do tipo na capital, empregando 560 mil pessoas. De cada cem novos restaurantes ou bares que são abertos, apenas cinco sobrevivem por mais de cinco anos.



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