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FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO - CRÍTICA
Obra é exibida
"Hannah" desnuda privacidade de filósofa
da Redação
Quando falamos em separação
entre a esfera da vida pública e a da
vida privada, muitas vezes, mesmo sem perceber, estamos recorrendo a reflexões da filósofa alemã
de origem judaica Hannah Arendt
(1906-1975), consolidadas no pensamento ocidental.
Hoje, ela tem parte de sua vida
privada exposta ao público em documentário exibido no 3º Festival
de Cinema Judaico de São Paulo.
A história de Arendt, autora de
"Origens do Totalitarismo" e "A
Condição Humana", é, dessa vez,
contada a partir de sua correspondência, em especial com três homens que marcaram sua formação
intelectual -o militante espartaquista e seu marido Heinrich Blücher e seus professores Karl Jasper
e Martin Heidegger, autor de "Ser
e Tempo", com quem manteve
uma relação amorosa nos anos 20.
O filme traz, por exemplo, carta
de Heidegger, casado com dois filhos, que recorda de modo apaixonado a entrada da jovem de 18
anos em seu gabinete.
A correspondência entre Arendt
e o filósofo que emprestaria seu
prestígio ao regime nazista nos
anos 30 tornou-se um dos pontos
problemáticos da figura da filósofa
junto à comunidade judaica.
Mas, quando Arendt ainda vivia,
a relação entre a filósofa e os judeus já havia passado por momentos mais difíceis. O pior, quando
Arendt, nos anos 60, cobriu para a
revista "New Yorker" o julgamento de Adolf Eichmann, um
criminoso de guerra nazista.
Depois da cobertura, veio o livro
"Eichmann em Jerusalém - Um
Ensaio sobre a Banalidade do
Mal". Arendt buscou discutir a
relação entre indivíduo e sistema
totalitário, que, mais do que produto de monstros, é resultado da
ação humana. Foi acusada de desejar inconscientemente defender
Eichmann.
Se a abertura do baú de Arendt
serviu para alimentar a polêmica
sobre Heidegger, também colaborou para alimentar a contribuição
da autora na esfera pública.
Neste ano, foi publicado no Brasil "O Que É Política" (Bertrand
Brasil), fragmentos de uma obra
inconclusa, nos quais Arendt começou a trabalhar nos anos 50.
(HAROLDO CERAVOLO SEREZA)
Filme: Hannah Arendt
Direção: Eglal Errera e Alain Ferrari
Produção: França, 1997
Quando: hoje, às 18h e 20h
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 852-9197)
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