São Paulo, sábado, 8 de agosto de 1998

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FESTIVAL DE CINEMA JUDAICO - CRÍTICA
Obra é exibida
"Hannah" desnuda privacidade de filósofa

da Redação

Quando falamos em separação entre a esfera da vida pública e a da vida privada, muitas vezes, mesmo sem perceber, estamos recorrendo a reflexões da filósofa alemã de origem judaica Hannah Arendt (1906-1975), consolidadas no pensamento ocidental.
Hoje, ela tem parte de sua vida privada exposta ao público em documentário exibido no 3º Festival de Cinema Judaico de São Paulo.
A história de Arendt, autora de "Origens do Totalitarismo" e "A Condição Humana", é, dessa vez, contada a partir de sua correspondência, em especial com três homens que marcaram sua formação intelectual -o militante espartaquista e seu marido Heinrich Blücher e seus professores Karl Jasper e Martin Heidegger, autor de "Ser e Tempo", com quem manteve uma relação amorosa nos anos 20.
O filme traz, por exemplo, carta de Heidegger, casado com dois filhos, que recorda de modo apaixonado a entrada da jovem de 18 anos em seu gabinete.
A correspondência entre Arendt e o filósofo que emprestaria seu prestígio ao regime nazista nos anos 30 tornou-se um dos pontos problemáticos da figura da filósofa junto à comunidade judaica.
Mas, quando Arendt ainda vivia, a relação entre a filósofa e os judeus já havia passado por momentos mais difíceis. O pior, quando Arendt, nos anos 60, cobriu para a revista "New Yorker" o julgamento de Adolf Eichmann, um criminoso de guerra nazista.
Depois da cobertura, veio o livro "Eichmann em Jerusalém - Um Ensaio sobre a Banalidade do Mal". Arendt buscou discutir a relação entre indivíduo e sistema totalitário, que, mais do que produto de monstros, é resultado da ação humana. Foi acusada de desejar inconscientemente defender Eichmann.
Se a abertura do baú de Arendt serviu para alimentar a polêmica sobre Heidegger, também colaborou para alimentar a contribuição da autora na esfera pública.
Neste ano, foi publicado no Brasil "O Que É Política" (Bertrand Brasil), fragmentos de uma obra inconclusa, nos quais Arendt começou a trabalhar nos anos 50.
(HAROLDO CERAVOLO SEREZA)


Filme: Hannah Arendt Direção: Eglal Errera e Alain Ferrari Produção: França, 1997 Quando: hoje, às 18h e 20h
Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 852-9197)


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