São Paulo, sábado, 14 de março de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Instalação que estréia hoje reveste as paredes de taipa de pilão da galeria com embalagens recicláveis
Luísa Luiz "plastifica' Capela do Morumbi

FERNANDO OLIVA
da Redação

A Capela do Morumbi está plastificada. Só que, ao contrário do escultor búlgaro Christo Javacheff, que já embalou monumentos, carros e árvores, a instalação da artista gaúcha Luísa Luiz intervém de dentro para fora.
"Plastificações" cobre as paredes de taipa da Capela a partir de hoje com painéis de plástico transparentes -chapas que a artista costuma colecionar e que um dia serviram para embalar brinquedos, chocolates, computadores, torneiras, ferramentas...
Na Capela, a tensão da obra de Luísa repousa nessa contradição entre a artificialidade do plástico, representando o descartável de nosso tempo, e o sentido de permanência impregnado nas paredes do lugar (a taipa de pilão da hoje galeria de arte remonta a 1825, talvez anterior a isso).
A artista discorda. Para ela, as fôrmas plásticas -que ela prefere chamar de relevos- têm forte carga emocional, são seu inventário afetivo. "Começo a me impressionar com a quantidade de formas absurdas que encontro, todas já prontas", diz.
"São usadas apenas para proteger algo, objetos, e depois as pessoas jogam fora, mas para mim são visualmente muito ricas."
A saída encontrada é reciclar as formas, apropriando-se delas. "Se são o material do nosso tempo e estamos direto em contato, precisamos tirar proveito disso."
Objetivo que ela atinge, por exemplo, ao transformar a Capela numa capela de verdade (foi o arquiteto Gregori Warchavchi que tratou o lugar como tal, mas não existem registros históricos). O plástico reflete muito a luz e brilha. Então, no universo da artista, quem visita a exposição entra também numa igreja, toda enfeitada e brillhando como num dia de festa.
Essa arqueologia do cotidiano contemporâneo ("É descartável, mas faz parte de nosso tempo", diz ela) ocupa a Capela de maneira tradicional. As chapas de plástico, suspensas por fios de náilon, remetem a uma sala de museu, tal como numa mostra de quadros, lado a lado, chapados contra a parede. Uma exposição, só que virtual, translúcida.
Voltando a Christo, Luísa é reticente nas comparações com o criador da arte de "empaquetage". O búlgaro, usando lona e plástico semitransparente, ocultava os elementos urbanos que queria elevar à categoria de arte.
Já Luísa deixa passar a luz e o olhar. "A taipa continua ali para quem quiser ver", repete ela. "Plastificações", escondendo, consegue revelar.

Mostra: Plastificações (instalação) Artista: Luísa Luiz Suporte: embalagens de plástico Valor da obra: não divulgado
Vernissage: hoje, às 12h Quando: ter a dom, 9h às 17h Onde: av. Morumbi, 5.387 (tel. 011/606-2218)



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