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ARTES PLÁSTICAS
Instalação que estréia hoje reveste as paredes de taipa de pilão da galeria com embalagens recicláveis
Luísa Luiz "plastifica' Capela do Morumbi
FERNANDO OLIVA
da Redação
A Capela do Morumbi está plastificada. Só que, ao contrário do
escultor búlgaro Christo Javacheff, que já embalou monumentos, carros e árvores, a instalação
da artista gaúcha Luísa Luiz intervém de dentro para fora.
"Plastificações" cobre as paredes
de taipa da Capela a partir de hoje
com painéis de plástico transparentes -chapas que a artista costuma colecionar e que um dia serviram para embalar brinquedos,
chocolates, computadores, torneiras, ferramentas...
Na Capela, a tensão da obra de
Luísa repousa nessa contradição
entre a artificialidade do plástico,
representando o descartável de
nosso tempo, e o sentido de permanência impregnado nas paredes do lugar (a taipa de pilão da
hoje galeria de arte remonta a
1825, talvez anterior a isso).
A artista discorda. Para ela, as
fôrmas plásticas -que ela prefere
chamar de relevos- têm forte
carga emocional, são seu inventário afetivo. "Começo a me impressionar com a quantidade de formas absurdas que encontro, todas
já prontas", diz.
"São usadas apenas para proteger algo, objetos, e depois as pessoas jogam fora, mas para mim
são visualmente muito ricas."
A saída encontrada é reciclar as
formas, apropriando-se delas. "Se
são o material do nosso tempo e
estamos direto em contato, precisamos tirar proveito disso."
Objetivo que ela atinge, por
exemplo, ao transformar a Capela
numa capela de verdade (foi o arquiteto Gregori Warchavchi que
tratou o lugar como tal, mas não
existem registros históricos). O
plástico reflete muito a luz e brilha. Então, no universo da artista,
quem visita a exposição entra também numa igreja, toda enfeitada e
brillhando como num dia de festa.
Essa arqueologia do cotidiano
contemporâneo ("É descartável,
mas faz parte de nosso tempo", diz
ela) ocupa a Capela de maneira
tradicional. As chapas de plástico,
suspensas por fios de náilon, remetem a uma sala de museu, tal
como numa mostra de quadros,
lado a lado, chapados contra a parede. Uma exposição, só que virtual, translúcida.
Voltando a Christo, Luísa é reticente nas comparações com o
criador da arte de "empaquetage".
O búlgaro, usando lona e plástico
semitransparente, ocultava os elementos urbanos que queria elevar
à categoria de arte.
Já Luísa deixa passar a luz e o
olhar. "A taipa continua ali para
quem quiser ver", repete ela.
"Plastificações", escondendo,
consegue revelar.
Mostra: Plastificações (instalação)
Artista: Luísa Luiz
Suporte: embalagens de plástico
Valor da obra: não divulgado
Vernissage: hoje, às 12h
Quando: ter a dom, 9h às 17h
Onde: av. Morumbi, 5.387 (tel.
011/606-2218)
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