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CD/CRÍTICA
Suspense é eficiente e econômico
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O compositor norte-americano Philip Glass, 64, possui
um exímio controle sobre a linguagem da música de câmara. A
trilha sonora do filme "Drácula"
-na versão de 1931, a mais clássica entre as 97 outras versões do
mesmo vampiro na história cinematográfica- não é apenas uma
prova disso.
É também a demonstração de
que o clima de suspense e de tragédia exigido pelo enredo pode
ser sonoramente traduzido por
meio da econômica junção de
apenas dois violinos, uma viola e
um violoncelo. No caso, os instrumentistas do Kronos Quartet.
Glass, para quem não se lembra,
foi nos anos 70 um dos "inventores" da música minimalista, que,
por meio da repetição de sequências harmônicas de extrema simplicidade, submetidas a variações
minúsculas após uma dezena de
compassos, procurava romper
com a vanguarda atonalista e com
o neoclassicismo que dividiam o
mercado da música erudita.
"Drácula" não é sua primeira
incursão no campo das trilhas sonoras. Ele compôs, por exemplo,
para "Mishima", de 1985, com direção de Paul Schrader, e é o autor
da música de "Kundun", lançado
em 1998 e dirigido por Martin
Scorsese.
"Kundun", poema sinfônico em
18 movimentos, uma das peças
sonoras mais bem construídas da
história de Hollywood, acabou
perdendo o Oscar para o medíocre acompanhamento musical de
"Titanic". Previsível.
Não é tampouco a primeira vez
que Glass e o Kronos trabalham
juntos. Há dois CDs de composições suas, um de 1986 e outro de
1995, em que o quarteto norte-americano exercita seu hábito de
incursionar por território experimental e evita se diluir na enésima
versão de quartetos mais conhecidos de Beethoven, Schubert ou
Brahms.
Philip Glass mergulha de forma
sofisticada no clima do "Drácula"
dirigido por Tod Browning e interpretado por Bela Lugosi. É sofisticado não por dar à música alguma proximidade melódica com
aquelas que estavam em voga no
início dos anos 30, mas por incorporar, com tradução minimalista,
aquilo que, depois de Bernard
Herrmann (1911-1975), autor das
trilhas dos melhores Hitchcock,
pode ser visto como o gênero sonoro específico ao suspense.
São construções simples e de
grande eficácia, como a manutenção de um acorde agudo, que volta a cada compasso, por sua vez
complementado por uma sucessão de notas mais graves e bem
curtas.
Glass também imprime em algumas das 26 faixas do CD aquilo
que provavelmente o futuro verá
como uma de suas marcas registradas. Num instrumento de cordas com predominância de escalas maiores (violoncelo, viola), o
instrumentista passeia com o arco
alternadamente pelas duas cordas
mais graves, introduzindo uma
mudança de uma ou das duas notas a cada dez ou 20 compassos.
Apesar dessa simplicidade técnica quase franciscana, com a
partitura de Philip Glass o Kronos
Quartet tem a sonoridade densa
de uma grande orquestra de cordas. Há poucos vazios sonoros. O
negócio é preencher os espaços
para não deixar a peteca do suspense cair em pausas que criariam lacunas no clima cinematográfico de tensão. Drácula, o vampiro, agradece.
Drácula
Artista: Kronos Quartet
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 30, em média
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