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MÚSICA
Integrante da geração original do mangue beat, Junio Barreto mostra 1º CD solo hoje, em show com o grupo Eddie
Veterano vira moleque em estréia tardia
DA REPORTAGEM LOCAL
A noite pernambucana hoje
no clube Urbano guarda um
pequeno segredo, para além do
grupo olindense Eddie. Ele se chama Junio Barreto, tem 40 anos,
nasceu em Caruaru e mora em
São Paulo. É um estreante, tendo
lançado o primeiro disco solo,
"Junio Barreto", apenas neste
2004. É um veterano, pois assistiu
a e participou de toda a cena conhecida como mangue beat.
A demora da estréia lhe causa o
inconveniente de ela vir encontrar a linguagem mangue já muito
conhecida, já um pouco desgastada. Ao ouvido ligeiro, o disco de
Junio soa pouco inédito, lembra
constantemente a melancolia
mangue beat de, por exemplo,
Fred Zero Quatro.
É apenas a primeira impressão,
entretanto. Barreto incorpora,
sim, não há como negar, toda a
metodologia forjada a partir de
Pernambuco na década passada,
de assimilação de maracatus e cirandas ao rock e ao hip hop, do
tradicionalismo às culturas digitais etc. Tudo isso está lá.
Mas o desgaste oculta -ou melhor, não oculta-, uma série de
trunfos individuais de Junio. A
poesia é setor privilegiado, o também autor criando imagens (seus
vínculos com o cinema pernambucano também são fortes) sempre impressionantes.
A musicalidade, ainda que muito apoiada nos manguezais, com
freqüência dá vôos maiores, passando por samba e batucada, por
órgãos de jovem guarda e de oposição à jovem guarda, por frevo
todo desconstruído -é de entortar sua releitura de "A Mesma Rosa Amarela", clássico de Capiba.
É que hoje ele pode se permitir
dialogar com gerações passadas
da música popular que os heróicos Fred Zero Quatro e Chico
Science a princípio rejeitaram -é
o caso da fossa-frevo de Capiba,
mas também ecoa no inusitado
parentesco de "Oiê" com os modos poéticos da dupla mineira-carioca João Bosco-Aldir Blanc.
No mais, há um sabor pop ainda
camuflado no peso de voz e de arranjo em canções como "Qual É
Mago" e "Amigos Bons" -esta
Junio costuma cantar com os discípulos bem mais moleques do
Mombojó, esses sim elementos de
revolução em tudo o que se sabia
até aqui sobre mangue beat. Não é
de estranhar que Junio Barreto,
nômade errante entre as gerações
de sua terra natal, fascine e seja
fascinado pelos moleques do
Mombojó -ele também é (e pode vir a ser ainda mais) moleque.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Junio Barreto
Lançamento: independente
Quanto: R$ 25, em média
JUNIO BARRETO E EDDIE. Shows no
Urbano (r. Cardeal Arcoverde, 614,
Pinheiros, tel. 3085-1001). Quando: hoje,
0h30. Quanto: R$ 15 (mulheres) e R$ 20
(homens).
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