São Paulo, quinta-feira, 16 de setembro de 2004

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MÚSICA

Integrante da geração original do mangue beat, Junio Barreto mostra 1º CD solo hoje, em show com o grupo Eddie

Veterano vira moleque em estréia tardia

DA REPORTAGEM LOCAL

A noite pernambucana hoje no clube Urbano guarda um pequeno segredo, para além do grupo olindense Eddie. Ele se chama Junio Barreto, tem 40 anos, nasceu em Caruaru e mora em São Paulo. É um estreante, tendo lançado o primeiro disco solo, "Junio Barreto", apenas neste 2004. É um veterano, pois assistiu a e participou de toda a cena conhecida como mangue beat.
A demora da estréia lhe causa o inconveniente de ela vir encontrar a linguagem mangue já muito conhecida, já um pouco desgastada. Ao ouvido ligeiro, o disco de Junio soa pouco inédito, lembra constantemente a melancolia mangue beat de, por exemplo, Fred Zero Quatro.
É apenas a primeira impressão, entretanto. Barreto incorpora, sim, não há como negar, toda a metodologia forjada a partir de Pernambuco na década passada, de assimilação de maracatus e cirandas ao rock e ao hip hop, do tradicionalismo às culturas digitais etc. Tudo isso está lá.
Mas o desgaste oculta -ou melhor, não oculta-, uma série de trunfos individuais de Junio. A poesia é setor privilegiado, o também autor criando imagens (seus vínculos com o cinema pernambucano também são fortes) sempre impressionantes.
A musicalidade, ainda que muito apoiada nos manguezais, com freqüência dá vôos maiores, passando por samba e batucada, por órgãos de jovem guarda e de oposição à jovem guarda, por frevo todo desconstruído -é de entortar sua releitura de "A Mesma Rosa Amarela", clássico de Capiba.
É que hoje ele pode se permitir dialogar com gerações passadas da música popular que os heróicos Fred Zero Quatro e Chico Science a princípio rejeitaram -é o caso da fossa-frevo de Capiba, mas também ecoa no inusitado parentesco de "Oiê" com os modos poéticos da dupla mineira-carioca João Bosco-Aldir Blanc.
No mais, há um sabor pop ainda camuflado no peso de voz e de arranjo em canções como "Qual É Mago" e "Amigos Bons" -esta Junio costuma cantar com os discípulos bem mais moleques do Mombojó, esses sim elementos de revolução em tudo o que se sabia até aqui sobre mangue beat. Não é de estranhar que Junio Barreto, nômade errante entre as gerações de sua terra natal, fascine e seja fascinado pelos moleques do Mombojó -ele também é (e pode vir a ser ainda mais) moleque.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Junio Barreto    
Lançamento: independente
Quanto: R$ 25, em média

JUNIO BARRETO E EDDIE. Shows no Urbano (r. Cardeal Arcoverde, 614, Pinheiros, tel. 3085-1001). Quando: hoje, 0h30. Quanto: R$ 15 (mulheres) e R$ 20 (homens).



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