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Ciclo exibe preferidos do crítico Ismail Xavier
Festival inclui desde Buñuel até produção recente
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Não é muito comum um festival de cinema dedicar uma
mostra de filmes a um crítico e
estudioso, em vez de a um cineasta, um movimento ou uma
cinematografia. Mas o ciclo
"Homenagem a Ismail Xavier",
que o 12º Festival Brasileiro de
Cinema Universitário exibe de
hoje a domingo, se justificaria
mesmo que não se tratasse de
um evento estudantil.
Professor da USP desde 1971,
PhD em cinema pela Universidade de Nova York, discípulo
dileto de Paulo Emilio Sales
Gomes e Antônio Cândido, Xavier faz da crítica um exercício
permanente de diálogo entre o
cinema, a literatura e as ciências humanas.
Seu olhar refinado, baseado
num sólido conhecimento da
linguagem cinematográfica
(como atesta o fundamental "O
Discurso Cinematográfico: A
Opacidade e a Transparência"),
combina profundidade e
abrangência, o que explica a
heterogeneidade dos filmes da
mostra.
Estão programados, por
exemplo, marcos do cinema
novo ("Deus e o Diabo na Terra
do Sol", de Glauber Rocha) e do
cinema dito "marginal" ("O
Bandido da Luz Vermelha", de
Rogério Sganzerla), movimentos que o crítico abordou verticalmente no livro "Alegorias do
Subdesenvolvimento".
Mas Xavier não se restringe
ao estudo do que já é consagrado, canônico. Está sempre
atento a tudo o que pode alargar ou enriquecer a experiência
do cinema. Paralelamente à atividade acadêmica e à produção
de livros de grande fôlego, costuma intervir no debate crítico
por meio de artigos e ensaios
publicados no calor da hora em
jornais e revistas.
Cinema recente
Por isso, ao lado de obras
clássicas de cineastas caros à
formação de Xavier, como Luis
Buñuel ("Cão Andaluz"), Orson
Welles ("Cidadão Kane"), Robert Bresson ("Pickpocket"),
Hitchcock ("Um Corpo que
Cai") e Antonioni ("O Eclipse"),
a mostra inclui exemplares do
que há de mais original no cinema recente ("Vive l'Amour", de
Tsai-ming Liang, "Flores de
Shangai", de Hsiao-hsien Hou)
ou mesmo recentíssimo (o inédito "Serras da Desordem", de
Andrea Tonacci).
Muitos territórios explorados por Xavier ficaram de fora
da mostra: Eisenstein, John
Ford, D. W. Griffith, o cinema
de vanguarda americano etc.
Cabe lamentar uma lacuna em
especial: a de filmes inspirados
em obras de Nelson Rodrigues,
produção que o crítico iluminou em seu livro mais recente,
"O Olhar e a Cena".
Ou seja: sobrou material para
uma nova edição. Ou para várias, já que Ismail Xavier, que
no mês passado completou 60
anos, segue mais atuante do
que nunca na sua tarefa de ver,
estudar, interpretar e discutir
as imagens em movimento.
12º FESTIVAL BRASILEIRO DE
CINEMA UNIVERSITÁRIO -
HOMENAGEM A ISMAIL XAVIER
Quando: de hoje a domingo
Onde: Cinemateca Brasileira (lgo. Senador Cardoso, 207, inf. 3512-6111 ou
www.cinemateca.gov.br)
Quanto: entrada franca
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