São Paulo, terça-feira, 17 de julho de 2007

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Ciclo exibe preferidos do crítico Ismail Xavier

Festival inclui desde Buñuel até produção recente

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Não é muito comum um festival de cinema dedicar uma mostra de filmes a um crítico e estudioso, em vez de a um cineasta, um movimento ou uma cinematografia. Mas o ciclo "Homenagem a Ismail Xavier", que o 12º Festival Brasileiro de Cinema Universitário exibe de hoje a domingo, se justificaria mesmo que não se tratasse de um evento estudantil.
Professor da USP desde 1971, PhD em cinema pela Universidade de Nova York, discípulo dileto de Paulo Emilio Sales Gomes e Antônio Cândido, Xavier faz da crítica um exercício permanente de diálogo entre o cinema, a literatura e as ciências humanas.
Seu olhar refinado, baseado num sólido conhecimento da linguagem cinematográfica (como atesta o fundamental "O Discurso Cinematográfico: A Opacidade e a Transparência"), combina profundidade e abrangência, o que explica a heterogeneidade dos filmes da mostra.
Estão programados, por exemplo, marcos do cinema novo ("Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha) e do cinema dito "marginal" ("O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla), movimentos que o crítico abordou verticalmente no livro "Alegorias do Subdesenvolvimento".
Mas Xavier não se restringe ao estudo do que já é consagrado, canônico. Está sempre atento a tudo o que pode alargar ou enriquecer a experiência do cinema. Paralelamente à atividade acadêmica e à produção de livros de grande fôlego, costuma intervir no debate crítico por meio de artigos e ensaios publicados no calor da hora em jornais e revistas.
Cinema recente
Por isso, ao lado de obras clássicas de cineastas caros à formação de Xavier, como Luis Buñuel ("Cão Andaluz"), Orson Welles ("Cidadão Kane"), Robert Bresson ("Pickpocket"), Hitchcock ("Um Corpo que Cai") e Antonioni ("O Eclipse"), a mostra inclui exemplares do que há de mais original no cinema recente ("Vive l'Amour", de Tsai-ming Liang, "Flores de Shangai", de Hsiao-hsien Hou) ou mesmo recentíssimo (o inédito "Serras da Desordem", de Andrea Tonacci).
Muitos territórios explorados por Xavier ficaram de fora da mostra: Eisenstein, John Ford, D. W. Griffith, o cinema de vanguarda americano etc. Cabe lamentar uma lacuna em especial: a de filmes inspirados em obras de Nelson Rodrigues, produção que o crítico iluminou em seu livro mais recente, "O Olhar e a Cena".
Ou seja: sobrou material para uma nova edição. Ou para várias, já que Ismail Xavier, que no mês passado completou 60 anos, segue mais atuante do que nunca na sua tarefa de ver, estudar, interpretar e discutir as imagens em movimento.


12º FESTIVAL BRASILEIRO DE CINEMA UNIVERSITÁRIO - HOMENAGEM A ISMAIL XAVIER
Quando:
de hoje a domingo
Onde: Cinemateca Brasileira (lgo. Senador Cardoso, 207, inf. 3512-6111 ou www.cinemateca.gov.br)
Quanto: entrada franca


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