São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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DANÇA

"Tempo de Verão", de Marcia Milhazes, tem Lamartine Babo na trilha

Pureza da valsa inspira coreografia

KATIA CALSAVARA
DA REDAÇÃO

Um homem acorda nos braços de uma mulher desconhecida. Beijam-se. Atrás deles, surge a figura de outra mulher. A cena inicia a nova coreografia da carioca Marcia Milhazes, 43, "Tempo de Verão", que tem estréia nacional amanhã no teatro Sesc Anchieta.
Os três bailarinos dançam valsas adoradas por Milhazes, que se embrenhou na pesquisa do ritmo e acabou indo bem além do um, dois, três... um, dois, três. "Descobri que os compositores não pensam apenas na questão rítmica. Eles buscam inserir o que há de mais puro e "naif" neles, o que dá às valsas um caráter de pureza atroz", diz Milhazes.
Entre as músicas que integram a trilha de "Tempo de Verão", estão obras de Francisco Mignone (1897-1986), Lamartine Babo (1904-1963) e Zequinha de Abreu (1880-1935) entre outros.
Para Milhazes, os gestos e movimentos de suas criações têm "o peso da palavra". "É como se estivesse escrevendo." O gestual se transforma em frases que, juntas, se transformam em parágrafos.
A bailarina conta que o trabalho coreográfico é artesanal, baseado também em suas escrituras antigas. Costuma "bordar" todos os gestos com a colaboração dos intérpretes e aproveita para refletir sobre a criatividade. "Não acredito em cliques ou em sacadas. Considero um caminho curto. Quando acontece é porque já há uma bagagem e muito trabalho por trás arquivado na memória de quem cria."
O cenário do espetáculo, assim como nas outras criações de Milhazes, é da irmã e artista plástica Beatriz Milhazes. As duas trabalham em parceria sem que interfiram diretamente uma no trabalho da outra. "A Beatriz não assiste aos ensaios. Nós apenas conversamos muito sobre a obra", diz a diretora, que afirma ser privilegiada com os cenários da irmã. Uma espécie de candelabro feito de madeira, plástico, borracha e outros tipos de material compõem a cena.
A companhia Marcia Milhazes Dança Contemporânea foi fundada em 1994. Desde então, a bailarina e diretora tem como um de seus objetivos a valorização das raízes brasileiras. "Adoro descobrir o que não sabemos sobre nossas raízes."
"João e Maria", um dos espetáculos mais premiados da companhia, tinha a obra de Machado de Assis como pano de fundo. Em "Tempo de Verão" não há linearidade. Milhazes diz que muitas cenas se entrelaçam quase cinematograficamente. "São muitas as informações dadas à platéia, mas tento não deixá-las tão claras como nas referências que apareciam em "João e Maria"."
O espetáculo funciona como um salão de baile em que pessoas diferentes aparecem no mesmo espaço, da mesma forma, sem saber quem são.


TEMPO DE VERÃO. Estréia da nova criação da Marcia Milhazes Dança Contemporânea. Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3234-3000). Quando: amanhã e sáb., às 21h; dom., às 19h. Quanto: de R$ 10 a R$ 20.


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