UOL


São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Garoto prodígio


Argentino "O Filho da Noiva" é o filme há mais tempo em cartaz em São Paulo neste ano


LEANDRO FORTINO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Alberto e Maria do Carmo Pileggi moram na Vila Nova Conceição. Guilherme Bracco, no Aeroporto. Edison Barone, em Perdizes. Dorli e Clodoaldo Jurado, na Vila Mariana. São 21h no cine Belas Artes, em SP. Em 20 minutos, inicia-se mais uma sessão do filme que, por acaso, colocou todos juntos na sala Mário de Andrade na última quarta-feira e é a produção que está há mais tempo em cartaz na cidade neste ano.
Trata-se de "O Filho da Noiva", há oito meses ocupando uma das seis salas do complexo situado na rua da Consolação.
O longa argentino, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, estreou em 22 de novembro de 2002, já está disponível há um mês em VHS e DVD nas locadoras e ainda atrai pelo menos 600 pessoas por semana ao Belas Artes.
Críticas positivas ajudaram, claro. Mas o boca a boca e a história (que poderia ser sua) foram fundamentais para atingir 320 mil pessoas no Brasil (130 mil somente no Estado de SP). Isso considerando que estavam disponíveis apenas 19 cópias do filme no país.
A história gira em torno de Rafael, um estressado dono de restaurante que, com a crise econômica no país, decide vender o estabelecimento e fica em choque ao saber que, após 44 anos, seu pai resolve se casar na igreja com sua mãe, internada em uma clínica por sofrer do mal de Alzheimer.
A direção é de Juan José Campanella, 43, também responsável por episódios do seriado americano "Lei & Ordem". "Quando começamos o filme, não imaginávamos que seria sucesso fora de Buenos Aires, pois o achávamos muito portenho. Quando estreou nas outras Províncias da Argentina e fez sucesso, achávamos que não se daria bem fora do país por ser muito argentino. Quando ganhou o festival de Montréal, disseram que era uma história universal", afirma Campanella.
Ele acha que o filme é um exemplo não intencional da máxima "pinte sua aldeia e descreverá o mundo".
O público brasileiro, como o casal Alberto e Maria do Carmo, foi assistir ao longa por achar que encontrariam similaridades com a própria vida. "Viemos ver por se tratar da história de um senhor estressado, como meu marido é", explica Maria do Carmo, zombando de Alberto. "Foi ela que escolheu esse filme", diz ele. Havia pelo menos cinco anos que o casal não ia ao Belas Artes.
"Não conheço muito a vida no Brasil para dizer que o público se identifica com os personagens. Mas acho que a vida nos dois países é similar. Temos um mesmo projeto de país, e me agrada que esse encontro de similaridades se aprofunde", diz o diretor.
Por Campanella trabalhar em "Lei & Ordem" e ter seu filme distribuído nos EUA pela gigante Sony Classics, muitos poderiam acusar seu "O Filho da Noiva" de hollywoodiano disfarçado de cinema independente argentino.
Ele explica: "Quando fiz o filme, tinha dirigido apenas um episódio de "Lei & Ordem". Não me influenciou em nada. Já a distribuição da Sony não nos ajudou muito, pois foi os EUA foram o único país em que o filme não foi bem-sucedido. Parece-me que uma grande distribuidora não sabe administrar filmes pequenos. Um filme argentino, por mais bem-sucedido que seja, continua sendo uma produção pequena".
Para seu distribuidor nos cinemas do Brasil, Marco Aurélio Marcondes, diretor do consórcio Europa Filmes/m.a. Marcondes, o êxito do filme foi também surpresa. "Minha estimativa inicial girava entre 150 mil e 180 mil ingressos. Já fez praticamente o dobro."
Para André Sturm, programador e sócio do Belas Artes, "o bom resultado tem a ver com o boca a boca. As pessoas não sabem direito o nome do filme e muitas vezes compram o ingresso perguntando sobre a história".
Sturm diz que o longa fica em cartaz até pelo menos o final de agosto. "Virou meio que um talismã do Belas Artes. Tem sido um problema para muitos filmes a voracidade do mercado. Mas enquanto ele estiver fazendo 200 pessoas no fim de semana, vale."


Texto Anterior: Exibição na TV é o desafio
Próximo Texto: Música: Autoramas tenta "reajustar" o rock na pista independente
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.