São Paulo, quinta-feira, 30 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ERUDITO

Arts Florissants volta a SP

Grupo barroco presta tributo a Charpentier

JOÃO BATISTA NATALI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O conjunto barroco francês Les Arts Florissants retorna a São Paulo com apresentação que é uma espécie de declaração de fidelidade e amor musical por Marc-Antoine Charpentier (1634-1704), compositor lembrado agora nos 300 anos de sua morte.
Na programação da Sociedade de Cultura Artística, os 39 instrumentistas e os 31 cantores -entre eles, 20 vozes infantis de Versalhes- apresentarão na sexta e no sábado, sob a regência de William Christie, dois concertos na Sala São Paulo.
O primeiro trará a tragédia bíblica, em um prólogo e cinco atos, "David et Jonathas" (Davi e Jonas), obra estreada em 1688 em um colégio parisiense de jesuítas e que o próprio Christie gravou em 1988 e regeu por duas outras temporadas na França.
Ainda de Charpentier, no segundo concerto, o "Grande Ofício dos Mortos", justaposição de quatro peças fúnebres para instrumentos e vozes, e "Te Deum" (H.146), um dos quatro que Charpentier escreveu e, talvez, a mais conhecida de suas composições.

Lições de música barroca
William Christie, 59, é um pesquisador que nos tem reeducado na maneira de ouvir a música do século 17. Há previsivelmente os instrumentos originais com afinação de época (a nota lá em 391 hertz, mais grave que a de 415 hertz do barroco alemão).
Há também um perfeccionismo de detalhes e um profundo conhecimento das técnicas de interpretação esquecidas com a passagem dos séculos.
Christie esteve pelas últimas vezes em São Paulo em apresentações em 1994 e 1998. Nascido nos Estados Unidos e radicado na França desde 1971, formou-se em Yale e em Harvard, é de origem clavicinista e se tornou referência em um país que entrou com atraso -depois da Áustria, Reino Unido, Alemanha e Holanda- na prática da revitalização do barroco restaurado.
Deve-se a ele a reaparição, em concertos e em CDs, de compositores como Bernier, Desmarest, Campra ou Giroust, ao lado de outros nomes que não chegaram a cair no esquecimento, como Couperin, Rameau e, sobretudo, Lully, uma espécie de ditador musical na corte de Luís 14 e a quem se atribui a marginalização artística de Charpentier.
Quanto às obras no programa, "David et Jonathas", personagens do Antigo Testamento, traz jovens intérpretes de felicíssimo desempenho, como o tenor Cyril Auvity (Davi) e a soprano Maud Gnidzaz (Jonas). Auvity tem uma emissão de pureza agudíssima e econômica em ornamentos. Gnidzaz apresenta uma técnica incrível para alguém que tem uma carreira ainda recente.
No "Grande Ofício dos Mortos" destacam-se a soprano espanhola Olga Pitarch e a portuguesa Orlanda Isidro, o tenor escocês Paul Agnew e o norte-americano Jeffrey Thompson.
Entre os solistas, sobressaem-se o barítono Marc Maillon e o baixo Bertrand Bontoux, deficiente visual que lê sua parte em uma transcrição em braile.
"David et Jonathas" foi interpretado na quarta da semana passada no Colón, em Buenos Aires. O "Grand Office", mais o "Te Deum", no dia seguinte, no Sólis, de Montevidéu. Os dois teatros vieram abaixo. O que também poderá ocorrer agora na Sala São Paulo.


O jornalista João Bastista Natali viajou a convite da Sociedade de Cultura Artística

LES ARTS FLORISSANTS. Com William Christie (direção). Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, região central, tel. 3337-5414 e 3258-3344). Quando: sexta e sábado, às 21h. Quanto: R$ 130 a R$ 250, ou R$ 10, para estudantes, meia hora antes do espetáculo. Patrocínio: banco Safra, Bovespa, Telefônica e Votorantim.


Texto Anterior: Casa Cor abre hoje e espera público menor
Próximo Texto: Regente aponta evolução barroca
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.