São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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OPINIÃO

Leite deve ser um só, saudável e nutritivo

MARILENA LAZZARINI

Na terça-feira passada, o presidente da Leite Brasil expôs nesse espaço a sua opinião sobre o teste comparativo de leite pasteurizado tipo C, realizado pelo Idec e mais cinco entidades de consumidores. Lamentavelmente, demonstrou que está mais preocupado em apontar a responsabilidade de outros segmentos e desviar a atenção para outro produto (leite clandestino) do que propor soluções para os problemas constatados em nossa pesquisa e que dizem respeito à sua instituição.
Menos de um mês depois da divulgação de nosso teste, outra pesquisa, realizada pelo governo, confirmou que a situação é preocupante.
Para o Idec e, com certeza, para os consumidores, a existência de um produto de qualidade ruim do ponto de vista sanitário (leite clandestino) não justifica que se tenha um outro nas mesmas condições (leite C). Ambas as situações são inaceitáveis, devendo o consumidor, bem informado, evitar o primeiro e buscar as marcas ou tipos de leite pasteurizado mais seguros.
A melhor forma para se atingir isso são os testes comparativos das entidades de consumidores, executados com absoluto rigor técnico e de forma independente, sendo, ainda, um instrumento poderoso a seu favor, pois obrigam os órgãos governamentais a melhorar o seu desempenho e as empresas a aperfeiçoar a qualidade dos seus produtos.
Em vez de investir contra as entidades de consumidores, a Leite Brasil deveria responder com ações para resolver o problema, sem usar argumentos confusos e afirmações equivocadas para justificar a situação.
Em 98, o Idec divulgou o Guia dos Alimentos, que recomenda aos consumidores a compra de alimentos controlados, rejeitando os de origem clandestina.
Diante do que foi constatado no teste do leite C, o Idec não poderia se limitar apenas à divulgação dos resultados. Exigimos a adoção de medidas a curto prazo para que o produto tenha as condições mínimas para consumo. Reivindicamos, ainda, a extinção da atual classificação do leite no Brasil em tipos A, B e C, como já acontece nos países desenvolvidos, para que exista um único tipo de leite, seguro sanitariamente e de boa qualidade nutritiva.
Não se trata de fazer isso por decreto, sem levar em conta os interesses e as necessidades das partes envolvidas, mas promover as mudanças desejadas pela maioria da população, respeitando-se, sobretudo, o consumidor.
As medidas sugeridas pelo Idec foram acolhidas pelo Ministério da Agricultura, que nos convidou a participar do processo de definição de uma nova política para a produção do leite no país.
A divulgação do teste lançou uma nova perspectiva sobre o assunto e provocou um debate esclarecedor.
O Idec e as demais entidades de consumidores vêm cumprindo o papel que lhes cabe perante a sociedade, o que não se verifica com outros agentes envolvidos.


Marilena Lazzarini é coordenadora-executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).


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