São Paulo, quarta-feira, 01 de fevereiro de 2006

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CPI só consegue "promessa" dos EUA

LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

Após uma hora e meia de reunião com a Promotoria Distrital de Nova York, os representantes da CPI dos Correios nos EUA não tiveram uma resposta afirmativa sobre a abertura do sigilo da conta Dusseldorf, do publicitário Duda Mendonça. O órgão americano prometeu analisar o pedido -o que dependeria de autorização judicial daquele país. Os dados já foram repassados ao Ministério da Justiça, por meio de colaboração judicial, e disponibilizados apenas para o Ministério Público e para a Polícia Federal.
Hoje, a comissão da CPI dos Correios, formada pelos deputados Osmar Serraglio (PMDB-PR), Maurício Rands (PT-PE) e Eduardo Paes (PSDB-RJ) segue para Washington, onde pedirão diretamente a órgãos do governo americano acesso à movimentação do marqueteiro em pelo menos outra conta já bloqueada por autoridades americanas.
De acordo com os deputados, o Ministério da Justiça brasileiro já pediu informações sobre outras contas, mas não há garantia de que os dados serão compartilhados com o Congresso.

Reunião
Na reunião de ontem em Nova York, Serraglio, Rands e Paes tiveram de convencer o chefe da Promotoria de Nova York, Robert Morgenthau, o promotor Adam Kaufmann, encarregado da investigação de lavagem de dinheiro do Brasil e outros cinco promotores de que a CPI dos Correios não iria vazar as informações sigilosas da movimentação financeira de Duda Mendonça.
Apesar do clima amistoso da negociação, brasileiros e americanos sentaram-se em lados opostos da mesa e fizeram cobranças sobre vazamentos da CPI do Banestado e, mais recentemente, de dados bancários de Duda Mendonça para a revista "Veja". Oficialmente, a Promotoria de Nova York nem sequer reconhece que existe uma investigação.
"Estamos confiantes que nos próximos dias teremos uma resposta dos promotores", disse Serraglio. "Explicamos que a CPI tem poder de juiz e que nós teremos uma conduta adequada." Antes do encontro, Paes argumentou que era necessário fazer uma "legitimação do vazamento".
Apesar do otimismo dos deputados, a Promotoria de Nova York está insatisfeita com a cooperação com o Brasil. Antenor Madruga, diretor do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional) do Ministério da Justiça, chegou a ser repreendido pelas informações publicadas nas últimas semanas pela revista "Veja".
Madruga não comentou diretamente a questão, mas defendeu a apuração da origem do vazamento. "O vazamento deve ser investigado, mas não deve ser motivo para não haver mais compartilhamento", disse.
Em Washington, os deputados se reunirão com representantes dos departamentos de Justiça, do Tesouro e no Fincen (Financial Crimes Enforcement Network, equivalente ao Coaf). Para Eduardo Paes, é necessário pedir uma investigação utilizando o Patriot Act como respaldo. "Essa lei permite o acesso nas investigações de terrorismo, tráfico de drogas e corrupção política. Nós deixamos claro que se trata de uma investigação de corrupção e que quem colocou o dinheiro fora do país não pode escapar", disse.
Os deputados reconheceram que a transferência de informações pode demorar e ultrapassar o prazo da CPI -o relatório deve ser concluído até 20 de março. Porém, insistiram que os Estados Unidos devem seguir investigando além do prazo da CPI.


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