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Ministério Público teme que governo use gravação de Santoro para aprovar limite à ação de procuradores; Corrêa diz que caso é "muito grave"
Lei da Mordaça ganha força com nova fita
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A conduta do subprocurador-geral da República José Roberto
Santoro no depoimento que tomou do empresário do jogo Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira, vai servir de munição
para aqueles que defendem a limitação dos poderes do Ministério Público Federal.
O governo Lula já vinha dando
sinais de que queria aprovar medidas para conter supostos excessos de procuradores e promotores. O principal defensor delas no
Palácio do Planalto é o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.
O Ministério Público teme que o
governo explore o caso de Santoro para aprovar na reforma do Judiciário uma norma que dê poder
ao Conselho Nacional do Ministério Público (o órgão de controle
externo) para demitir promotores e procuradores, independentemente de decisão judicial.
Outro receio é que a chamada
Lei da Mordaça retorne à agenda
política. Esse projeto só depende
da aprovação do Senado para entrar em vigor. Se aprovada, ela
proibirá juízes, membros do Ministério Público e autoridades policiais de dar informações sobre
investigações em andamento.
Os promotores e procuradores
também receiam que o STF (Supremo Tribunal Federal), em julgamento que está para ser realizado, lhes negue competência para
abrir investigações criminais e para tomar medidas nessas apurações por conta própria.
Relator do inquérito em que essa questão está sob exame, o ministro Marco Aurélio de Mello comentou: "Esse episódio [depoimento de Cachoeira a Santoro] só
vem confirmar a impropriedade
da iniciativa do Ministério Público na investigação criminal".
Para o presidente do STF, ministro Maurício Corrêa, a conduta
do subprocurador no depoimento de Cachoeira foi "muito grave".
"Traduz, sem dúvida, a conotação política [de Santoro na apuração do caso Waldomiro]. O Ministério Público não pode estar a
serviço de perseguições políticas,
de vinganças, de vinditas contra
quem quer que seja", disse.
Apesar disso, negou que a suspeita sobre a conduta de Santoro
possa reforçar os argumentos dos
defensores do controle externo do
Judiciário e do Ministério Público
e da Lei da Mordaça.
Outros três ministros do STF
-Marco Aurélio de Mello, Carlos
Ayres Britto e Sepúlveda Pertence- saíram em defesa do Ministério Público. Para eles, assim como para Maurício Corrêa, trata-se de um fato isolado.
Advogados
Advogados ouvidos pela Folha
condenaram a forma usada pelo
subprocurador para tentar obter
de Cachoeira uma cópia do vídeo
que deflagrou o escândalo Waldomiro Diniz.
O jurista Ives Gandra Martins
diz não ver problema em Santoro
ter feito um trabalho sem o conhecimento do procurador-geral
da República, porque os procuradores têm autonomia. No entanto, acredita que o fato de a conversa ter acontecido de madrugada é
"algo abusivo, próximo à fronteira da ilegalidade".
Para Wladimir Reale, especialista em Adins (ações diretas de
inconstitucionalidade), a atitude
foi "absolutamente ilegal e inconstitucional".
"A prova que ele quer produzir
nessa investigação paralela acaba
sendo ilícita, sem valor legal. É um
tragédia para o caso. Só beneficia
o infrator", afirma.
Ele, porém, acredita que o subprocurador não será punido. Ele
cita a Lei Orgânica do Ministério
Público Federal, que determina as
investigações internas. "Há três
longas fases. É para que não se
chegue a lugar nenhum", afirma.
Colaborou RICARDO WESTIN, da Reportagem Local
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