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SOMBRA NO PLANALTO
Empresário de jogos afirma que só a loteria da sua empresa foi fechada; ele nega ter gravado a conversa com o subprocurador
Cachoeira afirma que governo o persegue
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
O empresário de jogos Carlos
Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, disse à Agência Folha várias vezes nos últimos dois meses
que passou a ser vítima de perseguição do governo federal após a
divulgação, em 13 de fevereiro, de
vídeo de 2002 em que o ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz
lhe pede propina.
Em fevereiro e março, a reportagem da Agência Folha se encontrou oito vezes com Cachoeira, 40,
para entrevistas sobre o caso.
Cachoeira, que admitiu ter gravado encontro com Waldomiro
em 2002, negou ontem à Agência
Folha ter gravado a conversa com
o subprocurador José Roberto
Santoro. Ele também diz não ter
mandado entregar a fita ao "Jornal Nacional", da Rede Globo,
que a divulgou anteontem.
Santoro demonstra, na gravação, saber que a investigação atingiria o ministro José Dirceu (Casa
Civil) e o governo.
Segundo Cachoeira, a perseguição do governo começou no dia
28 de fevereiro, quando a Polícia
Federal mandou a Gerplan Gerenciamento e Planejamento
Ltda., empresa de Cachoeira em
Goiânia, suspender a atividade de
loterias e caça-níqueis.
A PF usou como justificativa a
medida provisória -editada pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 20 de fevereiro- que proibiu bingos e caça-níqueis no país.
"Por que só a minha loteria? Foi
a única no país [a ser proibida].
Isso é perseguição", afirmou Cachoeira no dia 1º de março.
O empresário de jogos chegou a
obter liminar da Justiça Federal
para realizar o sorteio da loteria
aos domingos, feito por uma
emissora de televisão em Goiás.
Apesar disso, a Gerplan resolveu
suspender a loteria para, segundo
ele, "não afrontar o governo".
O delegado Valdeson Rabelo, da
PF em Goiás, que notificou a Gerplan para paralisar a atividade, diz
que a Advocacia Geral da União e
o Ministério da Justiça entenderam que a MP de Lula também se
aplicava às loterias da Gerplan.
A PF anunciou no início de
março que investigaria Cachoeira
por lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, corrupção, remessa ilegal de dinheiro para o exterior e
até tráfico de drogas.
Na tentativa de obter informações sobre o caso Waldomiro, a
Agência Folha, no período de um
mês (de 18 de fevereiro ao último
dia 23), encontrou-se com Cachoeira na sede da Vitapan Indústria Farmacêutica, empresa dele
em Anápolis (GO). Houve ainda
20 conversas por telefone celular.
Nos encontros, Cachoeira deixou claro que a divulgação do vídeo do encontro com Waldomiro
atrapalhou seus negócios. Ele atua
no ramo de loterias e caça-níqueis
em Goiás, Paraná, Rio Grande do
Sul e Rio de Janeiro.
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