São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Empresário de jogos afirma que só a loteria da sua empresa foi fechada; ele nega ter gravado a conversa com o subprocurador

Cachoeira afirma que governo o persegue

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, disse à Agência Folha várias vezes nos últimos dois meses que passou a ser vítima de perseguição do governo federal após a divulgação, em 13 de fevereiro, de vídeo de 2002 em que o ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz lhe pede propina.
Em fevereiro e março, a reportagem da Agência Folha se encontrou oito vezes com Cachoeira, 40, para entrevistas sobre o caso.
Cachoeira, que admitiu ter gravado encontro com Waldomiro em 2002, negou ontem à Agência Folha ter gravado a conversa com o subprocurador José Roberto Santoro. Ele também diz não ter mandado entregar a fita ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, que a divulgou anteontem.
Santoro demonstra, na gravação, saber que a investigação atingiria o ministro José Dirceu (Casa Civil) e o governo.
Segundo Cachoeira, a perseguição do governo começou no dia 28 de fevereiro, quando a Polícia Federal mandou a Gerplan Gerenciamento e Planejamento Ltda., empresa de Cachoeira em Goiânia, suspender a atividade de loterias e caça-níqueis.
A PF usou como justificativa a medida provisória -editada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 20 de fevereiro- que proibiu bingos e caça-níqueis no país.
"Por que só a minha loteria? Foi a única no país [a ser proibida]. Isso é perseguição", afirmou Cachoeira no dia 1º de março.
O empresário de jogos chegou a obter liminar da Justiça Federal para realizar o sorteio da loteria aos domingos, feito por uma emissora de televisão em Goiás. Apesar disso, a Gerplan resolveu suspender a loteria para, segundo ele, "não afrontar o governo".
O delegado Valdeson Rabelo, da PF em Goiás, que notificou a Gerplan para paralisar a atividade, diz que a Advocacia Geral da União e o Ministério da Justiça entenderam que a MP de Lula também se aplicava às loterias da Gerplan.
A PF anunciou no início de março que investigaria Cachoeira por lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, corrupção, remessa ilegal de dinheiro para o exterior e até tráfico de drogas.
Na tentativa de obter informações sobre o caso Waldomiro, a Agência Folha, no período de um mês (de 18 de fevereiro ao último dia 23), encontrou-se com Cachoeira na sede da Vitapan Indústria Farmacêutica, empresa dele em Anápolis (GO). Houve ainda 20 conversas por telefone celular.
Nos encontros, Cachoeira deixou claro que a divulgação do vídeo do encontro com Waldomiro atrapalhou seus negócios. Ele atua no ramo de loterias e caça-níqueis em Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.


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